«Aonde quer que nos leve a fortuna, mais amável que meu pai,
nós iremos, amigos e companheiros!
Não desespereis. É Teucro o guia, Teucro o áugure:
prometeu o infalível Apolo
em nova terra uma segunda Salamina.
Bravos heróis, que comigo males bem piores
tantas vezes sofrestes, afastai por ora com o vinho as mágoas.
Amanhã, sulcaremos de novo ingente o mar.»
Horácio, em «Odes», p. 62 (Cotovia, 2008)
sexta-feira, 30 de dezembro de 2011
quarta-feira, 28 de dezembro de 2011
Notas Amadoras: D. Graça Reserva 2007
Vinilourenço. DOC Douro. Touriga Nacional, Tinta Roriz, Touriga Franca, Tinta Barroca. 13% Vol. Cerca de 4,50 €.
Vermelho-escuro intenso. O aroma lembra pêra, amoras, biscoitos, com notas abaunilhadas e florais. Bem estruturado, taninos sensíveis e macios, sabor persistente.
Vermelho-escuro intenso. O aroma lembra pêra, amoras, biscoitos, com notas abaunilhadas e florais. Bem estruturado, taninos sensíveis e macios, sabor persistente.
quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
Notas Amadoras: Grand'Arte Pinot Noir 2006
DFJ Vinhos. Regional Estremadura. 14% Vol. 5,59 €.
Vermelho transparente. O aroma lembra cogumelos, fruta silvestre, caramelo. Macio na boca, com leve amargor final.
Vermelho transparente. O aroma lembra cogumelos, fruta silvestre, caramelo. Macio na boca, com leve amargor final.
sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
Notas Amadoras: Alento 2009
Luís Louro. Regional Alentejano. Aragonez, Trincadeira, Alicante Bouschet, Touriga Nacional. 14% Vol. Oferta do produtor.
Vermelho-escuro. Aroma frutado, de morango em compota, marcado por notas untuosas e torradas. Na boca, perfeitamente polido, redondo, com um traço vegetal e de especiaria.
Vermelho-escuro. Aroma frutado, de morango em compota, marcado por notas untuosas e torradas. Na boca, perfeitamente polido, redondo, com um traço vegetal e de especiaria.
segunda-feira, 5 de dezembro de 2011
Notas Amadoras: Quinta da Rigodeira Baga 2005
Aliança. DOC Bairrada. 13,5% Vol. 4,30 €.
Cor púrpura. Aroma de fruta perfumada, com notas de fumo. Sabor arredondado, textura suave.
Cor púrpura. Aroma de fruta perfumada, com notas de fumo. Sabor arredondado, textura suave.
segunda-feira, 28 de novembro de 2011
Modus operandi
Como se faz |
Visita à Quinta do Monte d’Oiro
Um lugar de civilização. Lugar também de vento forte e constante, daí o nome da freguesia: Ventosa. A poucos quilómetros, é a Abrigada. 20 ha de vinhas em produção. 60% é Syrah. Todo o vinho do Monte d'Oiro tem um conceito gastronómico. De cada um que se provava, a Graça dizia com que comida casaria. Contou que Bento dos Santos é generoso, cultiva o prazer da partilha. Assim, na companhia dele, tem provado os melhores vinhos do mundo. Segundo ela, Bento dos Santos diz que o vinho é para beber, não para provar. Diz também que os vinhos do Monte d'Oiro são naturalmente gastronómicos. Ao fundo da adega, velando as pipas, estão duas estátuas (de madeira, creio): uma figura de mulher, representando a Arte, e uma de homem, representando o Engenho. Desde que ali chegou, em 2005, a Graça foi aligeirando e apurando o Madrigal, que achava pesado. Fê-lo aos poucos, porque foi preciso ir convencendo Bento dos Santos das suas razões. É ele quem idealiza os vinhos. Graça é a técnica que os executa, também tendo sua palavra. Em geral, não gosta dos brancos de Viognier dos outros. Diz que se trata de uma casta difícil de criar e de trabalhar. Como a Fernão Pires, facilmente origina vinhos perfumados em excesso, fáceis, oferecidos. Quanto a ela, prefere discrição e elegância. É a marca da Quinta do Monte d'Oiro.
sexta-feira, 25 de novembro de 2011
Notas Amadoras: Touriz 2006
Casa Santos Lima. Regional Estremadura. Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz. 13% Vol. 9 € (em restaurante).
Vermelho-escuro. Aroma vivo de fruta vermelha, como ginjas e morangos, de compotas e de bolos, temperado por uma nota vegetal. Na boca, aveludado e fresco.
Vermelho-escuro. Aroma vivo de fruta vermelha, como ginjas e morangos, de compotas e de bolos, temperado por uma nota vegetal. Na boca, aveludado e fresco.
terça-feira, 22 de novembro de 2011
Notas Amadoras: Quinta da Fonte do Ouro 2006
Soc. Agr. Boas Quintas. DOC Dão. Trincadeira, Jaen, Rufete. 12,5% Vol. Cerca de 4,50 €.
Cor púrpura. Rico em aromas, lembra, aos poucos, caramelos de fruta, ameixa, especiarias, pêra, o perfume da bergamota. Na boca, leveza, frescura, uma textura polida, com acidez e taninos sensíveis.
Cor púrpura. Rico em aromas, lembra, aos poucos, caramelos de fruta, ameixa, especiarias, pêra, o perfume da bergamota. Na boca, leveza, frescura, uma textura polida, com acidez e taninos sensíveis.
terça-feira, 15 de novembro de 2011
Notas Amadoras: Dom Martinho 1998
Soc. Agr. Quinta do Carmo. Regional Alentejano. Sem informação de castas. 13% Vol. 10 € (em restaurante).
Vermelho-escuro transparente. Tinha o grato perfume do vinho velho, mas já declinando. À mesa, ainda se mostrou capaz, refrescando e agradando bem a boca.
Vermelho-escuro transparente. Tinha o grato perfume do vinho velho, mas já declinando. À mesa, ainda se mostrou capaz, refrescando e agradando bem a boca.
terça-feira, 8 de novembro de 2011
Atrás dos fantasmas
Não há muito tempo, por razões que não vêm ao caso, fui à procura de um homem que não conhecia, a quem pretendia falar. «Fui à procura» é como quem diz, porque eu nem sequer me levantei. Pouco mais sabia dele do que o nome. Fiz pesquisas, inferências, conjecturas. No fim, enviei um e-mail. Poucos minutos depois, na volta do correio, chegava uma mensagem lapidar: — «Ex.mo Senhor: O Dr. A. C. faleceu em Janeiro de 2003.»
Quando, no começo do Verão, fui à procura (por assim dizer) de certo branco esquisito, muito famoso e apetecido no seu tempo, não quiseram dar-me a notícia de chofre. Foi preciso levantar-me e rumar à Casa das Gaeiras para perceber que andava atrás de outro fantasma.
A velha propriedade de muros amarelo-ocre da vila das Gaeiras, no concelho de Óbidos, tem uma história que se perde no tempo — e na Internet, onde a informação sobre ela é escassa e pouco exacta. Por conseguinte, talvez seja de interesse a publicação de uma pequena cronologia da Casa das Gaeiras, que alinhavei cruzando a genealogia dos seus senhores, os materiais e depoimentos lá recolhidos e as fontes digitais.
Bem diferente consta que era o antigo branco das Gaeiras. Em 2002, no «Guia Repsol», o Prof. Virgílio Loureiro apresentava-o como uma referência, «parte da história do vinho em Portugal»:
Quando, no começo do Verão, fui à procura (por assim dizer) de certo branco esquisito, muito famoso e apetecido no seu tempo, não quiseram dar-me a notícia de chofre. Foi preciso levantar-me e rumar à Casa das Gaeiras para perceber que andava atrás de outro fantasma.
A Casa das Gaeiras |
1720
Construção da Casa das Gaeiras. O seu fundador, um comerciante hamburguês, consagra-a ao fabrico de curtumes.
C. 1800
António Gomes da Silva Pinheiro (1763-1834), médico e militar, adquire a propriedade.
1803-1858
Vida de José Maria Gomes da Silva Pinheiro, filho de António Gomes da Silva Pinheiro.
1850-1904
Vida de José Maria Gomes Viseu da Silva Pinheiro, filho de José Maria Gomes da Silva Pinheiro. Segundo um folheto da própria Casa das Gaeiras, a sua parte mais moderna é construída «mesmo no final do século XIX, bem como os vastos jardins (…) vinhas e instalações vinárias». Tudo indica que é este Silva Pinheiro quem impulsiona a produção vitivinícola. Muitos prémios obtidos (quiçá os primeiros) em exposições como a de Filadélfia são do seu tempo. O mesmo folheto reproduz um anúncio antigo, onde se lê: — «Bebam Gaeiras, o vinho de meza superior. Comprovado nos 25 primeiros prémios obtidos nas exposições nacionais e estrangeiras desde 1876».
1874-1957
Vida de Emília Garrido Pinheiro, filha de José Maria Gomes Viseu da Silva Pinheiro.
1908-1998 (?)
Vida de José Pinheiro Ferreira Pinto Basto, filho de Emília Garrido Pinheiro. Enólogo diplomado em Montpellier, onde terá sido colega de António Porto Soares Franco (1906-1968), da José Maria da Fonseca.
1934-2008Nos últimos anos, a vitivinicultura das Gaeiras foi confiada aos técnicos da Parras, empresa ligada à Quinta do Gradil, por sinal outra casa com tradição na Estremadura, que produz um conjunto de vinhos passível de agradar a todos os gostos.
Vida de Frederico Eduardo Ferreira Pinto Basto Lupi, sobrinho de José Pinheiro Ferreira Pinto Basto.
Bem diferente consta que era o antigo branco das Gaeiras. Em 2002, no «Guia Repsol», o Prof. Virgílio Loureiro apresentava-o como uma referência, «parte da história do vinho em Portugal»:
«[O Gaeiras branco] ainda hoje é feito à moda antiga, fermentando em tonéis e estagiando sobre a “mãe” durante vários meses. Com uma cor amarelo palha e notas fumadas, é um vinho para conhecedores, com aromas resinosos e de querosene, bom corpo e excelente acidez, que tem, por vezes, um envelhecimento nobre em garrafa.»A tipicidade do Gaeiras provinha das uvas de Vital, da influência marítima e, com certeza, da «moda antiga». Hoje, a Vital deu lugar a outras castas. A moda antiga perdeu para as modas novas. Afinal, o moderno Casa das Gaeiras está como nós: resta-lhe a proximidade do mar e os fantasmas do que se vai perdendo. É a vida.
sexta-feira, 28 de outubro de 2011
Notas Amadoras: Pedra Basta 2008
Sonho Lusitano Vinhos. Regional Alentejano. Trincadeira, Aragonez, Alicante Bouschet, Cabernet Sauvignon. 13,5% Vol. 16,50 € (em restaurante).
Cor púrpura. Aroma doce, gulosinho, da fruta e da madeira. Depois, revela-se um alentejano fresco, todo macio, saboroso, de cauda longa.
Cor púrpura. Aroma doce, gulosinho, da fruta e da madeira. Depois, revela-se um alentejano fresco, todo macio, saboroso, de cauda longa.
sexta-feira, 21 de outubro de 2011
Notas Amadoras: Vinha do Mouro 2008
Miguel Louro. Regional Alentejano. Trincadeira, Aragonez, Alicante Bouschet, Cabernet Sauvignon. 14% Vol. 10 € (em restaurante).
Cor púrpura. Aroma de fruta, temperado de café, baunilha, uma nota mentolada. Corresponde na boca, cremoso, harmonioso e agradável.
Cor púrpura. Aroma de fruta, temperado de café, baunilha, uma nota mentolada. Corresponde na boca, cremoso, harmonioso e agradável.
sexta-feira, 14 de outubro de 2011
Retrato do amador enquanto farroupilha
Eu estava miseravelmente despenteado quando a D. Leonor Freitas apareceu, digna e séria, no seu terraço sobre os vinhedos de Fernando Pó. Aliás, o que eu estava era desgrenhado de todo. Mal-amanhado, no geral, com umas calças de ganga esgaçadas, um pólo que não me assenta, a face suada, as barbas empoeiradas — e o cabelo ridículo.
D. Leonor cumprimentou-me com uma expressão intrigada. Na certa, perguntava-se o que fazia em sua casa o cavalheiro da triste figura. Como percebesse a hesitação da patroa, o viticultor Nuno Rodrigues foi dizendo que estávamos a começar as provas, depois de uma volta de jipe pelas vinhas. «Janelas abertas, golpes de vento, daí o cabelo», pensei eu, mas comentei que o passeio fora excelente.
Na companhia de Nuno Rodrigues, vi os campos da Casa Ermelinda Freitas, variados nas castas, nas técnicas, no solo, na altitude, na idade. Pude mesmo, cruzando a Quinta da Mimosa, admirar as velhas cepas de Castelão Francês, plantadas em 1952.
Entretanto, o viticultor fazia boa conversa. Convencido de que a cultura da vinha tem um aspecto místico, ele crê que, embora se conheça com razoável detalhe a sua composição química, há no vinho um pequeno reduto de mistério, onde é possível que se esconda o que separa o vulgar do sublime. A sorte e o imponderável também fazem o vinho.
Não tardou que D. Leonor, vencendo a estranheza do farroupilha, entrasse a falar com entusiasmo e largueza sobre o legado familiar, o sucesso fulgurante do negócio, a urgência de se dignificar o trabalho rural. Disse, a propósito, que quer ser uma «rural moderna»; e, apesar de gostar muito de todos os seus vinhos de casta, quer também continuar a ser «a senhora do Castelão de Palmela».
A mim, impressionou-me a mulher enlevada que contou como acompanhou o crescimento da primeira vinha como o de um filho. Não me impressionou menos a sua superior discrição: D. Leonor nunca olhou para o meu estúpido cabelo.
D. Leonor cumprimentou-me com uma expressão intrigada. Na certa, perguntava-se o que fazia em sua casa o cavalheiro da triste figura. Como percebesse a hesitação da patroa, o viticultor Nuno Rodrigues foi dizendo que estávamos a começar as provas, depois de uma volta de jipe pelas vinhas. «Janelas abertas, golpes de vento, daí o cabelo», pensei eu, mas comentei que o passeio fora excelente.
Na companhia de Nuno Rodrigues, vi os campos da Casa Ermelinda Freitas, variados nas castas, nas técnicas, no solo, na altitude, na idade. Pude mesmo, cruzando a Quinta da Mimosa, admirar as velhas cepas de Castelão Francês, plantadas em 1952.
Entretanto, o viticultor fazia boa conversa. Convencido de que a cultura da vinha tem um aspecto místico, ele crê que, embora se conheça com razoável detalhe a sua composição química, há no vinho um pequeno reduto de mistério, onde é possível que se esconda o que separa o vulgar do sublime. A sorte e o imponderável também fazem o vinho.
Não tardou que D. Leonor, vencendo a estranheza do farroupilha, entrasse a falar com entusiasmo e largueza sobre o legado familiar, o sucesso fulgurante do negócio, a urgência de se dignificar o trabalho rural. Disse, a propósito, que quer ser uma «rural moderna»; e, apesar de gostar muito de todos os seus vinhos de casta, quer também continuar a ser «a senhora do Castelão de Palmela».
A mim, impressionou-me a mulher enlevada que contou como acompanhou o crescimento da primeira vinha como o de um filho. Não me impressionou menos a sua superior discrição: D. Leonor nunca olhou para o meu estúpido cabelo.
quarta-feira, 5 de outubro de 2011
Notas Amadoras: Quinta da Alorna Castelão 2001
DOC Ribatejo. 12,5% Vol. 14,5 € (em restaurante).
Vermelho-escuro. Um perfume afinado de framboesas, tomate em compota, chocolate. Fresquíssimo, longo, delicioso de beber.
Vermelho-escuro. Um perfume afinado de framboesas, tomate em compota, chocolate. Fresquíssimo, longo, delicioso de beber.
sexta-feira, 30 de setembro de 2011
Notas Amadoras: Casa Ermelinda Freitas Cabernet Sauvignon 2009
Regional Península de Setúbal. 14,5% Vol. Oferta do produtor.
Vermelho-escuro. De aroma, é um Cabernet Sauvignon como vem nos livros: fruta e pimento verde. O sabor é consonante, equilibrado e muito agradável.
Vermelho-escuro. De aroma, é um Cabernet Sauvignon como vem nos livros: fruta e pimento verde. O sabor é consonante, equilibrado e muito agradável.
quinta-feira, 22 de setembro de 2011
Notas Amadoras: Quinta do Ribeirinho Primeira Escolha 2003
Luis Pato. Regional Beiras. Baga, Touriga Nacional. 14% Vol. Oferta.
Cor púrpura viva. Aroma tão frutado quanto balsâmico, com um fumo de especiaria. No beber, fresco e gastronómico. Tinha saúde para durar.
Cor púrpura viva. Aroma tão frutado quanto balsâmico, com um fumo de especiaria. No beber, fresco e gastronómico. Tinha saúde para durar.
segunda-feira, 5 de setembro de 2011
Notas Amadoras: Casa Ermelinda Freitas Sauvignon Blanc & Verdelho 2010
Regional Península de Setúbal. 13,5% Vol. Oferta do produtor.
Amarelo-claro esverdeado. Um branco de aromas doces, cozidos, fumados. No sabor, a mesma sensação de fumo parece envolver um corpo agradável de fruta e acidez.
Amarelo-claro esverdeado. Um branco de aromas doces, cozidos, fumados. No sabor, a mesma sensação de fumo parece envolver um corpo agradável de fruta e acidez.
sexta-feira, 26 de agosto de 2011
Notas Amadoras: Monte Carreira (Branco)
Vinho de mesa. Fernão Pires. 13,5% Vol. 5,50 € (5 L).
Forte cor dourada. Aromas adocicados de pêssego e como de arroz cozido, juntos com uma nota salgada, que lembra sardinhas de conserva ― ou salada de polvo... De sabor, igualmente rústico e encorpado.
Forte cor dourada. Aromas adocicados de pêssego e como de arroz cozido, juntos com uma nota salgada, que lembra sardinhas de conserva ― ou salada de polvo... De sabor, igualmente rústico e encorpado.
domingo, 21 de agosto de 2011
Notas Amadoras: Casa das Gaeiras 2006 (Branco)
Frederico Eduardo Pinto Basto Lupi. Regional Estremadura. Sem informação de castas. 12% Vol. Cerca de 4 €.
Amarelo vivo. Aroma amanteigado (como a «manteiga azeda» que alguns acham em vinhos de Arinto com uns poucos anos), com uma nota vegetal que lembra hipericão seco. O sabor é correspondente, conservando uma acidez muito capaz.
Amarelo vivo. Aroma amanteigado (como a «manteiga azeda» que alguns acham em vinhos de Arinto com uns poucos anos), com uma nota vegetal que lembra hipericão seco. O sabor é correspondente, conservando uma acidez muito capaz.
terça-feira, 16 de agosto de 2011
Notas Amadoras: Casal da Azenha 2006 (Tinto)
António Bernardino Paulo da Silva. Regional Lisboa. Vinho de lote. 13% Vol. Oferta do produtor.
Vermelho-escuro arroxeado. Aroma frutado, feição rústica, um toque acídulo que chega a lembrar cebola. Semelhante na boca, com acidez e taninos para a mesa.
Vermelho-escuro arroxeado. Aroma frutado, feição rústica, um toque acídulo que chega a lembrar cebola. Semelhante na boca, com acidez e taninos para a mesa.
quinta-feira, 11 de agosto de 2011
Notas Amadoras: Casa das Gaeiras 2010 (Branco)
Regional Lisboa. Arinto, Chardonnay, Fernão Pires. 13,5% Vol. 3,49 €.
Amarelo-claro esverdeado. Aroma de ananás, um tanto vegetal. Acidez agradável, com a mesma sensação vegetal e uma certa espessura.
Amarelo-claro esverdeado. Aroma de ananás, um tanto vegetal. Acidez agradável, com a mesma sensação vegetal e uma certa espessura.
sábado, 6 de agosto de 2011
Notas Amadoras: Cabriz Reserva 2008
Dão Sul. DOC Dão. Touriga Nacional, Alfrocheiro, Tinta Roriz. 13,5% Vol. 6,50 €.
Vermelho-escuro brilhante. Aroma fino, perfumado, elegante. Sabor de fruta harmonioso, fresco, bem casado com o carvalho francês. Muito bem feito.
Vermelho-escuro brilhante. Aroma fino, perfumado, elegante. Sabor de fruta harmonioso, fresco, bem casado com o carvalho francês. Muito bem feito.
quarta-feira, 3 de agosto de 2011
Um copo de charneco
Sempre que calho beber um copo de bom Bucelas, vêm-me ao espírito as palavras de génio com que o Eça inscreveu o seu Tormes no Futuro: ― «um vinho fresco, esperto, seivoso, e tendo mais alma, entrando mais na alma, que muito poema ou livro santo.»
Estou convencido, por uma abundante experiência, de que um Bucelas bem feito, muito mais do que bom, é um vinho benéfico. Como um bálsamo, ele entra realmente na alma, e apazigua, retempera, dá alento. A Ciência explica esta virtude penetrante: ― «A principal característica dos vinhos de Arinto é a qualidade da sua acidez, à qual alia uma excelente estrutura e aveludado, que lhe são conferidos pela riqueza em substâncias pécticas e em proteínas, quando é produzida em terrenos calcários.»*
A Literatura também dá sua achega. Voltando ao Eça, em «A Relíquia», diz um Teodorico transtornado:
Ora, eu tive a felicidade de beber um copo de charneco em plena Quinta do Boição, fonte do Bucellas e de apreciáveis vinhos de quinta, na grata companhia do seu obreiro.
João Vicêncio recebeu-me com bondade e com a paciência que um leigo sempre requer. Tocando vagarosamente o jipe para a adega, ia apontando, ia mostrando, lá a Arinto, acolá a Rabo de Ovelha, estas cepas novas, estas velhas; a certo passo, furámos entre as linhas, roçando as parras ao de leve, atacadas do míldio, aqui e além: e assim era pena que eu não visse as vinhas tão bonitas e viçosas como elas em regra são.
Foi depois, já na adega, no fim de explicar sem reservas os processos de vinificação e todo o funcionamento da maquinaria, que ele, sabido, cheio de malícia, me estendeu um copo do mais recente Bucelas de vinhas velhas, apenas fermentado, que acabava de tirar da cuba para me dar a provar. Eu, pobre de mim, já antevendo o que lá vinha, de boca seca, impreparada, susceptível ― provei com delícias o charneco até à última gota, assim mesmo como estava, a vinte e tal graus de temperatura. O João Vicêncio sorriu-se, satisfeito: e é bem possível que, ali e então, me houvesse nascido uma alma nova.
* Prof. Virgílio Loureiro, em «Os Melhores Vinhos de Portugal – Guia Repsol 2002/2003»
Estou convencido, por uma abundante experiência, de que um Bucelas bem feito, muito mais do que bom, é um vinho benéfico. Como um bálsamo, ele entra realmente na alma, e apazigua, retempera, dá alento. A Ciência explica esta virtude penetrante: ― «A principal característica dos vinhos de Arinto é a qualidade da sua acidez, à qual alia uma excelente estrutura e aveludado, que lhe são conferidos pela riqueza em substâncias pécticas e em proteínas, quando é produzida em terrenos calcários.»*
A Literatura também dá sua achega. Voltando ao Eça, em «A Relíquia», diz um Teodorico transtornado:
«Fui tombar, quase desmaiado, no canapé de couro. Ele ofereceu-me vinho de Bucelas. Bebi um cálice. E passando a mão trémula sobre a face lívida:À requintada mesa dos Maias não podia ele faltar:
― Então dize lá, conta lá tudo, Justininho...»
«— Bucelas? — murmurou-lhe sobre o ombro o escudeiro.De resto, o Arinto de Bucelas é objecto de ternas devoções há séculos, e não só entre os portugueses: Thomas Jefferson, presidente dos Estados Unidos da América nos primeiros anos de 1800, não o dispensava na sua adega, «sempre da melhor qualidade, não aguardentado, e velho»; e o «charneco» a que Shakespeare alude em «O Rei Henrique VI», diz-se que não era outro vinho senão o nosso famoso branco.
O administrador ergueu o copo, depois de cheio, admirou-lhe à luz a cor rica, provou-o com a ponta do lábio, e piscando o olho para Afonso:
— É do nosso!
— Do velho — disse Afonso. Pergunte ao Brown... Hein, Brown, um bom néctar?
— Magnificente! — exclamou o preceptor com uma energia fogosa.»
Ora, eu tive a felicidade de beber um copo de charneco em plena Quinta do Boição, fonte do Bucellas e de apreciáveis vinhos de quinta, na grata companhia do seu obreiro.
Quinta do Boição |
Foi depois, já na adega, no fim de explicar sem reservas os processos de vinificação e todo o funcionamento da maquinaria, que ele, sabido, cheio de malícia, me estendeu um copo do mais recente Bucelas de vinhas velhas, apenas fermentado, que acabava de tirar da cuba para me dar a provar. Eu, pobre de mim, já antevendo o que lá vinha, de boca seca, impreparada, susceptível ― provei com delícias o charneco até à última gota, assim mesmo como estava, a vinte e tal graus de temperatura. O João Vicêncio sorriu-se, satisfeito: e é bem possível que, ali e então, me houvesse nascido uma alma nova.
* Prof. Virgílio Loureiro, em «Os Melhores Vinhos de Portugal – Guia Repsol 2002/2003»
domingo, 31 de julho de 2011
Notas Amadoras: Lavradores de Feitoria 2007
DOC Douro. Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz, Tinta Barroca. 12,4% Vol. 3,69 €.
Cor púrpura. Aroma fresco de fruta e como de feijão verde, com «torradinho». Bem estruturado e gastronómico.
Cor púrpura. Aroma fresco de fruta e como de feijão verde, com «torradinho». Bem estruturado e gastronómico.
quinta-feira, 28 de julho de 2011
Notas Amadoras: Arinto by Quinta de Chocapalha 2008
Regional Estremadura. 12,5% Vol. 1,99 €.
Amarelo-esverdeado. Aroma lembra amêijoas à Bulhão Pato! Limão, coentros, um toque mineral. Esperto, citrino, refrescante. Grande negócio!
Amarelo-esverdeado. Aroma lembra amêijoas à Bulhão Pato! Limão, coentros, um toque mineral. Esperto, citrino, refrescante. Grande negócio!
segunda-feira, 25 de julho de 2011
Notas Amadoras: Dom Teodósio Garrafeira 1995
DOC Bairrada. Baga, Castelão, Tinta Pinheira. 12% Vol. 5 €.
Vermelho-escuro transparente. Aroma fino de fruta, balsâmico, refrescante. São, fresco, longo, destes que matam a sede. No ponto.
Vermelho-escuro transparente. Aroma fino de fruta, balsâmico, refrescante. São, fresco, longo, destes que matam a sede. No ponto.
quinta-feira, 21 de julho de 2011
Notas Amadoras: Quinta do Gradil Arinto & Sauvignon 2010
Regional Lisboa. 14% Vol. Oferta do produtor.
Amarelo-claro. Aroma discreto. Do tipo que tem mais sabor do que cheiro. Seivoso.
Amarelo-claro. Aroma discreto. Do tipo que tem mais sabor do que cheiro. Seivoso.
segunda-feira, 18 de julho de 2011
Notas Amadoras: Caves São João Reserva 2005
Regional Beiras. Baga (Bairrada), Touriga Nacional (Dão). 13,5% Vol. 5,88 €.
Cor púrpura viva. Aroma rico de ameixa, framboesas, plantas silvestres, como um perfume do campo. Se tivesse outra garrafa, guardava-a bem guardada.
Cor púrpura viva. Aroma rico de ameixa, framboesas, plantas silvestres, como um perfume do campo. Se tivesse outra garrafa, guardava-a bem guardada.
sexta-feira, 15 de julho de 2011
Notas Amadoras: Casa das Gaeiras 2009 (Tinto)
Regional Lisboa. Touriga Nacional, Aragonez, Syrah. 13,5% Vol. 3,49 €.
Cor púrpura intensa. Aroma peculiar de fruta, torrefacção, especiarias. Muito agradável. A repetir.
Cor púrpura intensa. Aroma peculiar de fruta, torrefacção, especiarias. Muito agradável. A repetir.
terça-feira, 12 de julho de 2011
Notas Amadoras: Topázio Reserva 2009 (Branco)
Caves Velhas. DOC Douro. Arinto, Viosinho, Malvasia Fina. 12,5% Vol. 2,98 €.
Cor esverdeada. Aromas ténues. Acidez curiosa, com um toque de vinagrinho. Um branco para a mesa.
Cor esverdeada. Aromas ténues. Acidez curiosa, com um toque de vinagrinho. Um branco para a mesa.
sábado, 9 de julho de 2011
Notas Amadoras: Quinta de Alcube Castelão 2008
Regional Península de Setúbal. 14% Vol. 5,50 €.
Vermelho-escuro. Aroma quente de fruta madura. Menos exuberante do que outros vinhos do Alcube, mas guloso.
Vermelho-escuro. Aroma quente de fruta madura. Menos exuberante do que outros vinhos do Alcube, mas guloso.
quinta-feira, 7 de julho de 2011
Acta de um sacrifício
Aos dois dias do mês de Julho do ano da desgraça de dois mil e onze, reuniu em casa do Sr. C. R., cavalheiro, uma pequena assembleia de sete, contando todos. Tinham como desígnio sacrificar duas garrafas de Barca Velha, deste modo assinalando o desaparecimento do Eng. S. e o advento da Austeridade.
Tomou-se assento na sala de jantar do Sr. C. R. cerca das 18h. Dos sete presentes, apenas cinco se perfilavam para beber. O vinho estava na mesa, em garrafas de decantar. O trasfegador não sabia dizer qual continha a colheita de 1991, qual a de 1999. Pediu-se ao redactor que tentasse fazer a destrinça. Ele observou que a cor o não permitia, por ser nas duas igualmente viçosa. Para não pespegar nariz e bigodes na garrafa, deitou um pouco de vinho no seu copo: mas, mal tinha inspirado, já o Sr. D. o distribuía a jorros pelos demais. Era o 99.
A entrada em força causou efeito. O vinho, rico, vigoroso, cheio de borras, impunha recolhimento, estorvava o convívio. O redactor passou mudo toda a tarde, enfiado no copo. O anfitrião admoestou-o com bondade: era necessário comer e era necessário falar.
Comeu-se, queijos, enchidos, foie gras. Nenhum sabor contendeu com o vinho, o de doze como o de vinte anos.
Findo o Barca Velha, foi para a mesa outro Douro: Casa da Palmeira 2004. A assembleia agradou-se.
Seguiu-se um Châteauneuf-du-Pape, Cuvée Lucile Avril 2005. Segundo depois se apurou, este vinho é feito, na maior parte, de Grenache com 90 anos de idade e de Mourvèdre com 60. O redactor regalou-se, inebriado com o perfume do desconhecido. Viu-se então obrigado a falar: achava que o francês teria anos de vida pela frente; e o mesmo do Barca Velha 91, mais do que o 99.
Fechou-se com um Real Companhia Velha Vintage 2000: e assim também o redactor deve concluir, notando que o generoso fez justiça à generosidade do anfitrião, o Sr. C. R., verdadeiro cavalheiro, a quem se deseja as mesmas saúde e longa vida deste Porto. Bem haja!
Tomou-se assento na sala de jantar do Sr. C. R. cerca das 18h. Dos sete presentes, apenas cinco se perfilavam para beber. O vinho estava na mesa, em garrafas de decantar. O trasfegador não sabia dizer qual continha a colheita de 1991, qual a de 1999. Pediu-se ao redactor que tentasse fazer a destrinça. Ele observou que a cor o não permitia, por ser nas duas igualmente viçosa. Para não pespegar nariz e bigodes na garrafa, deitou um pouco de vinho no seu copo: mas, mal tinha inspirado, já o Sr. D. o distribuía a jorros pelos demais. Era o 99.
A entrada em força causou efeito. O vinho, rico, vigoroso, cheio de borras, impunha recolhimento, estorvava o convívio. O redactor passou mudo toda a tarde, enfiado no copo. O anfitrião admoestou-o com bondade: era necessário comer e era necessário falar.
Comeu-se, queijos, enchidos, foie gras. Nenhum sabor contendeu com o vinho, o de doze como o de vinte anos.
Findo o Barca Velha, foi para a mesa outro Douro: Casa da Palmeira 2004. A assembleia agradou-se.
Seguiu-se um Châteauneuf-du-Pape, Cuvée Lucile Avril 2005. Segundo depois se apurou, este vinho é feito, na maior parte, de Grenache com 90 anos de idade e de Mourvèdre com 60. O redactor regalou-se, inebriado com o perfume do desconhecido. Viu-se então obrigado a falar: achava que o francês teria anos de vida pela frente; e o mesmo do Barca Velha 91, mais do que o 99.
Fechou-se com um Real Companhia Velha Vintage 2000: e assim também o redactor deve concluir, notando que o generoso fez justiça à generosidade do anfitrião, o Sr. C. R., verdadeiro cavalheiro, a quem se deseja as mesmas saúde e longa vida deste Porto. Bem haja!
quarta-feira, 6 de julho de 2011
Notas Amadoras: Vale dos Barris Castelão 2009
Resolvi passar a publicar no «Amável Vinho» as notas de prova que vou tomando para mim mesmo, com a ideia de que elas possam aproveitar a mais alguém. São notas amadoras, singelas, resumidas ao que julgo essencial. Não atribuem pontos nem veredictos: registam simplesmente as minhas impressões de cada vinho. Têm uma só preocupação fundamental, que é a de ser sérias.
Começo com um tinto de emergência social. Sabia que Portugal fabrica vinhos medalhados com ouro em França, que vende a menos de dois euros? Sinais da crise. Razões da crise.
Vale dos Barris Castelão 2009
Adega Cooperativa de Palmela. Regional Península de Setúbal. 13,5% Vol. 1,89 €.
Cor púrpura opaca. Aromas doces como de pêra cozida e de fruta bem madura. Um bombom de beber e continuar a beber.
Começo com um tinto de emergência social. Sabia que Portugal fabrica vinhos medalhados com ouro em França, que vende a menos de dois euros? Sinais da crise. Razões da crise.
Vale dos Barris Castelão 2009
Adega Cooperativa de Palmela. Regional Península de Setúbal. 13,5% Vol. 1,89 €.
Cor púrpura opaca. Aromas doces como de pêra cozida e de fruta bem madura. Um bombom de beber e continuar a beber.
quinta-feira, 23 de junho de 2011
Espantosa realidade das coisas
«A espantosa realidade das coisasAndamos desencontrados, leitores. Nós todos, os que ora estamos vivos. Somos apressados, desconfiados, desapaixonados. Não nos interessamos. Não comunicamos. Não reparamos. Não nos espantamos. Não temos tempo. Andamos desirmanados, leitores.
É a minha descoberta de todos os dias.
Cada coisa é o que é,
E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra,
E quanto isso me basta.»
(Alberto Caeiro)
Os vinhos que apreciamos são enxovalhados pelas luminárias (que inda pretendem endireitar-nos à bordoada); os nossos emblemas definham, moribundos; e mesmo as pessoas que nos estimam crêem que nos chamamos José. Oh eu! Oh vida! Oh sorte malvada!
Que se há-de fazer? Vamos andando. De vez em quando, até calha que algum produtor mais extravagante responde às nossas mensagens ― talvez por achar conveniente não desprezar a clientela, talvez por ser bem educado ― e se presta a receber-nos nos seus vinhedos e a conversar connosco. Recentemente, Ana Pereira da Fonseca Reis, responsável pelo enoturismo da Quinta do Sanguinhal, fez-me esse grande favor.
Bisneta de Abel Pereira da Fonseca, Ana tem o jeito pragmático e pressuroso dos empresários. À chegada, explicou que ia um dia de muito trabalho e não se podia demorar: levou-me numa visita às visitas organizadas e pagas (a 18 €) para turistas. No fim, com simpatia, permitiu que eu repetisse a volta, a fazer fotografias. Depois, convidou-me a segui-la até à Quinta das Cerejeiras, onde tem loja a Companhia Agrícola do Sanguinhal. Aí, mostrou-me as garrafas à venda, uma adega com quadros pintados pela avó e uma profusão de alfaias do labor dos vinhos. Falámos alguns minutos mais e despedimo-nos. Antes de partir, cuidei de tirar o retrato à velha casa de Abel Pereira da Fonseca, desenhada pelo famoso Norte Júnior. Eis tudo.
No entanto, recolhi esta história engraçada. Certo dia de boa sorte, Gary Vaynerchuck, comerciante de vinhos que se fez célebre com uma série de vídeos na Internet, resolveu comprar um Cerejeiras tinto. No catálogo do Sanguinhal, é a marca mais modesta: deu muito bem para o empolgar até aos 88 pontos ― e sem precisar fazer contas. Uma ou duas paletes que seguiam até então para os Estados Unidos passaram, num ápice, a uns poucos contentores. Pois não é espantosa a realidade das coisas?
Amigos leitores: é Verão; e nós estamos vivos.
quinta-feira, 16 de junho de 2011
Este país não é para meninos
Falando em ferocidade:
«É verdade que vão longe os tempos daqueles brancos oxidados, dos Fernão Pirão como lhe chamavam, com 14 ou 15 graus, intragáveis. Hoje, os vinhos defeituosos quase não existem.» (Luís Ramos Lopes, director da «Revista de Vinhos»)Às vezes, não há como uma boa bordoada para nos restituir ao caminho do Bem.
terça-feira, 14 de junho de 2011
Regressar a Fernando Pó
Nos nossos dias, dominados pela Economia e pelo Mercado, encontrar um vinicultor que persiste em fabricar vinhos guiado pelo seu próprio gosto, pouco importado em saber como param as modas ou se algum vizinho ou freguês desdenha do seu obsoleto branco, chamando-o de «amarelão», é uma sorte de regalar a alma. A última vez que me avistei com um tal homem foi uma manhã nublosa de domingo, quando regressei a Fernando Pó.
O Sr. António José da Costa Carreira saiu a porta a que chamámos já oferecendo um aperto de mão; acto contínuo, encaminhou-nos para a adega. Respondeu com parcimónia às minhas perguntas. Em poucos minutos, estávamos aviados: 10 litros de «Fernão Pirão», 11 euros.
Conformados a ir à nossa vida, o Sr. António, num tom franco, interpelou-nos familiarmente: ― «Querem provar alguma pinga?» Pois não havíamos de querer! Desapareceu por um instante; quando voltou, trazia dois grossos copos de vidro um tanto baço, que acabara de enxaguar e vinha ainda esfregando com os dedos. Provámos as «pingas» de Castelão que ia extraindo das cubas, variadas no grau alcoólico e no pertencente designativo técnico: água-pé, «Fórmula 1», «supersónico». Conversámos um bom bocado, até serem horas de almoço: depois despedimo-nos, consolados e agradecidos, comprometendo-nos a voltar pelos vinhos de beber do Monte Carreira.
Tornámos à estrada. Do outro lado da linha férrea, tomando a direcção de Poceirão, logo enfiámos para uma mata, fronteira a um vinhedo. Virámos para ele o carro e aí comemos a bucha ― ao mesmo tempo desembuchando com dois valentes copos de «amarelão». Esticámos as pernas, respirámos; e, tendo visto que o Casal Freitas era ao lado, tocámos para lá.
O próprio José Bento da Silva Freitas apareceu para nos atender. O velho senhor, ouvindo mal, foi parco em palavras: compreensivelmente, não estava na disposição de fazer sala a forasteiros. Foi o tempo de lhe comprarmos o excelente tinto que eu conhecera na Mostra, o Casal Freitas 2008, e de sabermos que o obreiro destes vinhos também é Jaime Quendera. Seguimos caminho.
Avançando de novo para o apeadeiro de Fernando Pó, parámos junto ao portão aberto da Freitas & Palhoça. Era o adegueiro Marcolino Cardoso quem estava. Sem hesitar, conversador e simpático, levou-nos a ver a adega, deu-nos a provar algum vinho, fez explicações; teve mesmo a gentileza de nos ofertar uma garrafa. Tomaram muitos proprietários ser tão capazes para o negócio: mais importante do que um enoturismo organizado é uma pouca de boa hospitalidade ― e até fica mais em conta.
Longe da Economia, do Mercado, da Crítica e de outras feras, Portugal vive. É preciso regressar a Fernando Pó.
O Sr. António José da Costa Carreira saiu a porta a que chamámos já oferecendo um aperto de mão; acto contínuo, encaminhou-nos para a adega. Respondeu com parcimónia às minhas perguntas. Em poucos minutos, estávamos aviados: 10 litros de «Fernão Pirão», 11 euros.
Conformados a ir à nossa vida, o Sr. António, num tom franco, interpelou-nos familiarmente: ― «Querem provar alguma pinga?» Pois não havíamos de querer! Desapareceu por um instante; quando voltou, trazia dois grossos copos de vidro um tanto baço, que acabara de enxaguar e vinha ainda esfregando com os dedos. Provámos as «pingas» de Castelão que ia extraindo das cubas, variadas no grau alcoólico e no pertencente designativo técnico: água-pé, «Fórmula 1», «supersónico». Conversámos um bom bocado, até serem horas de almoço: depois despedimo-nos, consolados e agradecidos, comprometendo-nos a voltar pelos vinhos de beber do Monte Carreira.
Tarde em Fernando Pó |
O próprio José Bento da Silva Freitas apareceu para nos atender. O velho senhor, ouvindo mal, foi parco em palavras: compreensivelmente, não estava na disposição de fazer sala a forasteiros. Foi o tempo de lhe comprarmos o excelente tinto que eu conhecera na Mostra, o Casal Freitas 2008, e de sabermos que o obreiro destes vinhos também é Jaime Quendera. Seguimos caminho.
Avançando de novo para o apeadeiro de Fernando Pó, parámos junto ao portão aberto da Freitas & Palhoça. Era o adegueiro Marcolino Cardoso quem estava. Sem hesitar, conversador e simpático, levou-nos a ver a adega, deu-nos a provar algum vinho, fez explicações; teve mesmo a gentileza de nos ofertar uma garrafa. Tomaram muitos proprietários ser tão capazes para o negócio: mais importante do que um enoturismo organizado é uma pouca de boa hospitalidade ― e até fica mais em conta.
Longe da Economia, do Mercado, da Crítica e de outras feras, Portugal vive. É preciso regressar a Fernando Pó.
quarta-feira, 1 de junho de 2011
Um vinho emocionante
São imagens já com cerca de um ano, mas não se podem deixar passar: no inestimável «A Alma e a Gente», o Professor José Hermano Saraiva, de visita ao Bombarral, aventura mais uma nota de prova. Desta feita, desperta mesmo mais surpresa e simpatia; em padecendo da maleita dos sentimentais (creio que somos poucos, graças a Deus), é muito natural até que sorriamos às suas palavras com alguma ternura.
Por volta dos 19:30 minutos de programa, o Professor conta resumidamente a história do célebre comerciante de vinhos Abel Pereira da Fonseca, fundador da Companhia Agrícola do Sanguinhal, ainda hoje em laboração e na posse dos seus descendentes. Depois, segurando nas mãos uma garrafa de vinho tinto, diz ele: ― «Eu provei-o ― Quinta do Sanguinhal [2006] ― e, de facto, é um vinho extraordinário.» Sem se deter, tem uma inspiração: ― «Um vinho que sabe a família; sabe a lareira; sabe a paisagem; sabe a saúde. É um vinho emocionante. Compreendo perfeitamente que tenha tido um prémio internacional.»
E agora, leitores que vos deixais comover: que faremos com esta sede?
Por volta dos 19:30 minutos de programa, o Professor conta resumidamente a história do célebre comerciante de vinhos Abel Pereira da Fonseca, fundador da Companhia Agrícola do Sanguinhal, ainda hoje em laboração e na posse dos seus descendentes. Depois, segurando nas mãos uma garrafa de vinho tinto, diz ele: ― «Eu provei-o ― Quinta do Sanguinhal [2006] ― e, de facto, é um vinho extraordinário.» Sem se deter, tem uma inspiração: ― «Um vinho que sabe a família; sabe a lareira; sabe a paisagem; sabe a saúde. É um vinho emocionante. Compreendo perfeitamente que tenha tido um prémio internacional.»
E agora, leitores que vos deixais comover: que faremos com esta sede?
terça-feira, 17 de maio de 2011
We will always have Bucelas
A Enoteca das Caves Velhas é uma loja de vinhos muito especial. Em bom rigor, o lugar já não se chama «Enoteca», já não é uma «loja de vinhos», e as Caves Velhas fazem agora parte do Grupo Enoport ― que, desde o ano passado, se apresenta como «Enoport United Wines». Por sua vez, a «Enoteca» foi mudada em «Enopoint» e a «loja de vinhos» passou a «wine shop». Eu, como não aprecio frequentar «wine shops» (e também acho que «Enojoint» é que era um nome chamativo), continuarei a chamar «Enoteca» àquela esplêndida loja de vinhos. De mais a mais, nunca um sisudo, como eu aspiro a ser, podia deitar-se a escrever: ― «O Enopoint da Enoport United Wines é uma wine shop muito especial.» Sainete, sim, mas com moderação. Avancemos para o que interessa.
Visitar a Enoteca é para mim sempre um prazer. As suas prateleiras acolhem muitos vinhos excepcionais que o Mercado despreza ou desconhece. As mais recentes colheitas do diverso catálogo do grupo coabitam com velhas garrafas de rótulos desfeitos, antiquados ou tão-só preteridos por não serem já suficientemente novos.
Para além dos vinhos velhos, a Enoteca tem outros encantos particulares, como um retrato de Sir Winston Churchill com uma caixa das Adegas Camillo Alves e, possivelmente, as poltronas mais confortáveis onde eu tenho repousado os ossos. Ainda por cima, está instalada no seio de uma das regiões vitícolas mais estimáveis que tem Portugal: a vetusta Bucelas, que agora celebra 100 anos como região demarcada.
Na passada quarta-feira, fui até lá. Eram apresentadas as últimas colheitas do Bucellas e dos tintos Topázio e Quinta do Boição Special Selection Old Vineyards (sim, sim, leitores). Desgraçadamente, comparecemos somente três gatos-pingados ― e nem por isso os nossos anfitriões foram menos diligentes ou atenciosos para connosco. Aliás, depois de conhecer o enólogo João Vicêncio, autor dos vinhos em apreço (com excepção do Topázio), entendo melhor o carácter afável do meu prezado Bucellas. O que agora se lança no mercado, de 2010, não deslustra a tradição deste bom branco de Arinto.
O Topázio 2009, um tinto com denominação de origem Douro, é do tipo insinuante, que quer ser bebido sem demora. A menos de 3 € a garrafa, tem sucesso garantido.
O Quinta do Boição etc. 2008 é outra fruta ― naturalmente. Se tomei boa nota das palavras de João Vicêncio, este Regional Lisboa (por sinal, acabado de premiar em Bruxelas) é feito, em partes iguais, de Touriga Nacional e de Syrah; as videiras de Touriga têm cerca de 80 anos, enquanto as de Syrah são novas, razão por que a idade das vinhas indicada nos contra-rótulos e nas fichas de produto é de 40 anos. O vinho tem um aroma inusitado e cativante, e apetece passar um bocado a conversar com ele. Aí está demonstrado como em Bucelas, com saber, também se podem fabricar tintos interessantes.
De modo que, caiam governos, entrem governos, venham credores, partam credores, desça o Belenenses e torne a descer: nós teremos sempre Bucelas.
Visitar a Enoteca é para mim sempre um prazer. As suas prateleiras acolhem muitos vinhos excepcionais que o Mercado despreza ou desconhece. As mais recentes colheitas do diverso catálogo do grupo coabitam com velhas garrafas de rótulos desfeitos, antiquados ou tão-só preteridos por não serem já suficientemente novos.
Para além dos vinhos velhos, a Enoteca tem outros encantos particulares, como um retrato de Sir Winston Churchill com uma caixa das Adegas Camillo Alves e, possivelmente, as poltronas mais confortáveis onde eu tenho repousado os ossos. Ainda por cima, está instalada no seio de uma das regiões vitícolas mais estimáveis que tem Portugal: a vetusta Bucelas, que agora celebra 100 anos como região demarcada.
Na passada quarta-feira, fui até lá. Eram apresentadas as últimas colheitas do Bucellas e dos tintos Topázio e Quinta do Boição Special Selection Old Vineyards (sim, sim, leitores). Desgraçadamente, comparecemos somente três gatos-pingados ― e nem por isso os nossos anfitriões foram menos diligentes ou atenciosos para connosco. Aliás, depois de conhecer o enólogo João Vicêncio, autor dos vinhos em apreço (com excepção do Topázio), entendo melhor o carácter afável do meu prezado Bucellas. O que agora se lança no mercado, de 2010, não deslustra a tradição deste bom branco de Arinto.
O Topázio 2009, um tinto com denominação de origem Douro, é do tipo insinuante, que quer ser bebido sem demora. A menos de 3 € a garrafa, tem sucesso garantido.
O Quinta do Boição etc. 2008 é outra fruta ― naturalmente. Se tomei boa nota das palavras de João Vicêncio, este Regional Lisboa (por sinal, acabado de premiar em Bruxelas) é feito, em partes iguais, de Touriga Nacional e de Syrah; as videiras de Touriga têm cerca de 80 anos, enquanto as de Syrah são novas, razão por que a idade das vinhas indicada nos contra-rótulos e nas fichas de produto é de 40 anos. O vinho tem um aroma inusitado e cativante, e apetece passar um bocado a conversar com ele. Aí está demonstrado como em Bucelas, com saber, também se podem fabricar tintos interessantes.
De modo que, caiam governos, entrem governos, venham credores, partam credores, desça o Belenenses e torne a descer: nós teremos sempre Bucelas.
sábado, 14 de maio de 2011
O amador em viagem
Areias de Fernando Pó |
O que eu então rememorava eram as paisagens do caminho andado para chegar à 16.ª Mostra de Vinhos de Marateca e Poceirão. Muitos e muitos campos de vinha e de pasto, as povoações parecendo abandonadas, a linha do comboio parecendo inútil ― tudo dava a doce impressão de nos estarmos afastando do presente.
Ia no desejo de conhecer os vinhos feitos do Castelão criado nas areias e no calor de Fernando Pó. A primeira boa surpresa foi, porém, um branco de Fernão Pires, num estilo com tradição mas hoje quase desaparecido, a que se chamava «Fernão Pirão». Era um vinho das Fazendas de Almeirim, elaborado à maneira de um tinto, de cor acastanhada, forte, saboroso e, tomando a palavra de quem sabe, com um «torradinho» característico. O que ali encontrei, de marca Monte Carreira, não obstante provir de Fernando Pó, possui sensivelmente as mesmas qualidades. O preço de uma tal relíquia da vinicultura portuguesa? 2,25 € a garrafa!
Os tintos a que ia foram, no geral, uma grata descoberta. Provei, é claro, os famosos vinhos da Casa Ermelinda Freitas; mas é que aprendi que há outros Freitas naquelas terras, e muitos outros vinicultores de que se não ouve falar, a fazer outros vinhos, que são bons de outras maneiras ― e que talvez transportem nas suas redondezas, com outra naturalidade, o suave fumo de um tempo perdido para sempre, o mesmo que pressenti na viagem.
O amador prolongando a sua vida.
quarta-feira, 27 de abril de 2011
Piquenique
Bem avisado, desde moço, de que o tempo voa, sou, em regra, avesso a repetir livros ou filmes, mesmo quando tenha gostado muito deles. O diabo é que eu não sou o mais regrado dos homens, e há uns poucos livros e filmes a que não posso deixar de voltar.
O «Sideways» é uma destas ficções que são como lugares a que apetece às vezes recolher. Fica na Califórnia vinhateira, é soalheiro e arejado, e tem a melancolia própria das coisas belas. As personagens do filme são velhos amigos que não me conhecem; a sua história é um bálsamo para o desalento; a música, um conforto que se pode ouvir continuamente.
Há pouco, chegou-me à caixa do correio o livro que originou o filme. Espero que não faça tanta sede ― mas duvido muito.
O «Sideways» é uma destas ficções que são como lugares a que apetece às vezes recolher. Fica na Califórnia vinhateira, é soalheiro e arejado, e tem a melancolia própria das coisas belas. As personagens do filme são velhos amigos que não me conhecem; a sua história é um bálsamo para o desalento; a música, um conforto que se pode ouvir continuamente.
Há pouco, chegou-me à caixa do correio o livro que originou o filme. Espero que não faça tanta sede ― mas duvido muito.
sexta-feira, 22 de abril de 2011
Um côvado de veludo
«Conheci um viajante inglês que só gostava de um vinho quando ele fazia a cauda de pavão na boca; todos conhecem a expressão do habitante de Auvergne bebendo um copo de vinho velho e generoso; é um côvado de veludo que desce pela garganta.»
Jules Guyot, em «Culture de la Vigne et Vinification», p. 375
Jules Guyot, em «Culture de la Vigne et Vinification», p. 375
terça-feira, 19 de abril de 2011
Pelintra de bom coração
Domingo, toda a gente sabe, é dia santo. Ora, beber qualquer vinhito a um domingo não só desgosta a família como, com toda a certeza, ofende especialmente a Deus.
Zeloso das minhas atribuições de escanção doméstico, e cheio de escrúpulo cristão, anteontem, quando eram horas, fui buscar as garrafas de tinto que havia abertas. Um, o Quinta da Infesta 2003, um Dão de Santar, havia tempo que andava desconfiado dele e do seu aroma tosco, em que, por sobre a fruta, pairava algum verdor que o desfeava. O outro, o Quinta do Encontro 2008, um Bairrada que abrira na véspera, parecera-me então um vinho magro e inexpressivo. Tornei a prová-los; com efeito, não eram dignos de um almoço de domingo.
Cismei um instante. «Deitá-los fora, não posso. Desarrolhar outra, não convém, porque ficam três abertas para a semana, e algum se há-de estragar.» De súbito, veio o Espírito Santo (ou talvez o do próprio Alexandre de Almeida) soprar-me ao ouvido: ― «Tens um Dão taninoso e um Bairrada franzino. Nenhum é desengraçado de todo. Faz mas é o teu próprio Bussaco, anda!»
Entusiasmado (mas solene), primeiro ensaiei o lote no copo de prova. Depois, munido de um copo medidor, deitei numa garrafa de cristal 25 cl do Quinta da Infesta. Em seguida, verifiquei que, do Quinta do Encontro, havia exactamente a quantidade que eu pretendia usar, ou seja, 50 cl (sem dúvida, uma manifestação da Providência divina). Misturei o vinho, desejando o impossível, que era poder estagiá-lo, para o casar. Em todo o caso, ali estava a minha primeira obra vinícola: o Palace Pelintra 2005.
Se tivesse rótulos, rezariam o seguinte: ― «Eis um vinho de lote do Dão e da Bairrada. Os vinhos que o compõem não eram maus. Este, porque se fez com conceito e bom coração, pode melhor contentar, a si, aos seus e a Deus. Saúde!»
Zeloso das minhas atribuições de escanção doméstico, e cheio de escrúpulo cristão, anteontem, quando eram horas, fui buscar as garrafas de tinto que havia abertas. Um, o Quinta da Infesta 2003, um Dão de Santar, havia tempo que andava desconfiado dele e do seu aroma tosco, em que, por sobre a fruta, pairava algum verdor que o desfeava. O outro, o Quinta do Encontro 2008, um Bairrada que abrira na véspera, parecera-me então um vinho magro e inexpressivo. Tornei a prová-los; com efeito, não eram dignos de um almoço de domingo.
Cismei um instante. «Deitá-los fora, não posso. Desarrolhar outra, não convém, porque ficam três abertas para a semana, e algum se há-de estragar.» De súbito, veio o Espírito Santo (ou talvez o do próprio Alexandre de Almeida) soprar-me ao ouvido: ― «Tens um Dão taninoso e um Bairrada franzino. Nenhum é desengraçado de todo. Faz mas é o teu próprio Bussaco, anda!»
Entusiasmado (mas solene), primeiro ensaiei o lote no copo de prova. Depois, munido de um copo medidor, deitei numa garrafa de cristal 25 cl do Quinta da Infesta. Em seguida, verifiquei que, do Quinta do Encontro, havia exactamente a quantidade que eu pretendia usar, ou seja, 50 cl (sem dúvida, uma manifestação da Providência divina). Misturei o vinho, desejando o impossível, que era poder estagiá-lo, para o casar. Em todo o caso, ali estava a minha primeira obra vinícola: o Palace Pelintra 2005.
Palace Pelintra 2005 |
sexta-feira, 15 de abril de 2011
Os bons, os maus e os outros
«Os homens são como os vinhos: com o tempo, os bons apuram e os maus azedam.»
Ocorreu-me que havia de pôr aqui esta máxima, atribuída a Cícero, depois de, na última entrada, ter separado o gosto do vinho velho do gosto do outro, que é de beber em novo, antes que o tempo lhe roube a graça.
Tencionava simplesmente transcrever a frase, mas, quando procurava atestar a sua autoria, reparei melhor no sentido do que diz. Se, no plano moral, ela se compreende bem (como convém num aforismo), já é muito discutível a ideia de que os vinhos que o tempo não beneficia não são bons.
É claro que, à época em que Cícero viveu (na hipótese de a frase realmente lhe pertencer, o que não é certo), vinha ainda longe nos séculos o nascimento de Robert Parker, da «Revista de Vinhos» e da blogosfera. Por consequência, não haveria muitos outros adjectivos para qualificar o vinho: quando se deixava beber, e dessedentava e embriagava devidamente, era bom; quando não, era mau.
Muitas eras depois, em 1844, Paul Ben ensinava às donas de casa que o vinho tinha lá os seus requisitos: ― «Um bom vinho é sempre de uma cor clara e brilhante; ao paladar, oferece um sabor macio, um bouquet agradável, não tem nada de duro, de acerbo e de picante, e causa na garganta uma sensação de aveludado.»
Em 1860, nas palavras cientistas de Jules Guyot, o bom vinho aparecia como alimento do espírito: ― «Todo o vinho natural, forte ou fraco em álcool, é um bom vinho, se conserva a sua vida orgânica e se a manifesta por um franco odor, por um concerto de todos os seus elementos num sabor harmonioso ao paladar, por uma digestão fácil, um aumento sensível das forças musculares e por uma actividade maior do corpo e do espírito.» Em seguida, sublinhava-se uma observação elementar: ― «O vinho é bom relativamente e não absolutamente.»
Hoje, na esteira de Guyot, o Professor Virgílio Loureiro afirma: ― «Todo o vinho que não tem defeito é, por definição, um produto de qualidade.» Não quer isto dizer, certamente, que todo o vinho isento de defeito é bom por igual. Recentemente, depois de dar a provar aos seus alunos o ribatejano Tinto Velho 1966, da Casa Francisco Ribeiro, o Professor finalizava assim uma aula: ― «A imagem de um país não se constrói com vinhos do ano ou com vinhos que levaram 80 pontos na “Wine Spectator”; faz-se com vinhos que vencem a prova do tempo.»
Não desmerecendo a sentença de Cícero, eu, por prudência, antes comparava os vinhos aos amigos: é que ambos são para as ocasiões ― mas nem todos, nem sempre, se revelam à altura delas.
Ocorreu-me que havia de pôr aqui esta máxima, atribuída a Cícero, depois de, na última entrada, ter separado o gosto do vinho velho do gosto do outro, que é de beber em novo, antes que o tempo lhe roube a graça.
Tencionava simplesmente transcrever a frase, mas, quando procurava atestar a sua autoria, reparei melhor no sentido do que diz. Se, no plano moral, ela se compreende bem (como convém num aforismo), já é muito discutível a ideia de que os vinhos que o tempo não beneficia não são bons.
É claro que, à época em que Cícero viveu (na hipótese de a frase realmente lhe pertencer, o que não é certo), vinha ainda longe nos séculos o nascimento de Robert Parker, da «Revista de Vinhos» e da blogosfera. Por consequência, não haveria muitos outros adjectivos para qualificar o vinho: quando se deixava beber, e dessedentava e embriagava devidamente, era bom; quando não, era mau.
Muitas eras depois, em 1844, Paul Ben ensinava às donas de casa que o vinho tinha lá os seus requisitos: ― «Um bom vinho é sempre de uma cor clara e brilhante; ao paladar, oferece um sabor macio, um bouquet agradável, não tem nada de duro, de acerbo e de picante, e causa na garganta uma sensação de aveludado.»
Em 1860, nas palavras cientistas de Jules Guyot, o bom vinho aparecia como alimento do espírito: ― «Todo o vinho natural, forte ou fraco em álcool, é um bom vinho, se conserva a sua vida orgânica e se a manifesta por um franco odor, por um concerto de todos os seus elementos num sabor harmonioso ao paladar, por uma digestão fácil, um aumento sensível das forças musculares e por uma actividade maior do corpo e do espírito.» Em seguida, sublinhava-se uma observação elementar: ― «O vinho é bom relativamente e não absolutamente.»
Hoje, na esteira de Guyot, o Professor Virgílio Loureiro afirma: ― «Todo o vinho que não tem defeito é, por definição, um produto de qualidade.» Não quer isto dizer, certamente, que todo o vinho isento de defeito é bom por igual. Recentemente, depois de dar a provar aos seus alunos o ribatejano Tinto Velho 1966, da Casa Francisco Ribeiro, o Professor finalizava assim uma aula: ― «A imagem de um país não se constrói com vinhos do ano ou com vinhos que levaram 80 pontos na “Wine Spectator”; faz-se com vinhos que vencem a prova do tempo.»
Não desmerecendo a sentença de Cícero, eu, por prudência, antes comparava os vinhos aos amigos: é que ambos são para as ocasiões ― mas nem todos, nem sempre, se revelam à altura delas.
quarta-feira, 6 de abril de 2011
Vinho oferecido
Talvez não precise já de proclamar o meu gosto dos vinhos velhos; ele está mais ou menos expresso em entradas e comentários anteriores. Este apreço pelas virtudes da maturidade, pela sua elegância e pelo aperfeiçoamento que o tempo geralmente opera em todas as criaturas de boa natureza, não impede, contudo, que me empolgue com um vinho forte e exuberante, desses que positivamente se oferecem a um prazer guloso e imediato.
Foi o que aconteceu há tempos, quando se reuniram à mesa a família, um cozido e o Quinta de Alcube Trincadeira 2008, um vinho com a indicação geográfica «Terras do Sado» (entretanto mudada em «Península de Setúbal». A propósito, vale a pena espreitar a portaria que determina a alteração, com a sua bela prosa legisladora, uma extensa lista das castas aptas ao fabrico de vinho com a nova denominação e, acima de tudo, a mimosa geologia do seu artigo terceiro: ― «Solos litólitos não húmicos derivados de materiais arenáceos pouco consolidados» etc.)
Não me sucede muito, levar o copo à boca e, fatalmente sentindo o aroma do vinho, ter de o pousar de novo, sem ter bebido, ao mesmo tempo que me recosto na cadeira e solto exclamações (discretíssimas) de um grande júbilo. Ultimamente, só me lembra beber assim, com tal dificuldade, o Falcoaria 2007, um Fernão Pires de alto gabarito ― e agora este Trincadeira sensualão da Quinta de Alcube. Na primeira oportunidade, fui até lá.
A quinta fica no Parque Natural da Arrábida e é um lugar de muitas delícias: amenidade e bons ares para respirar, ricos queijos, uma manteiga de ovelha preciosa e saborosas laranjas de Setúbal. Depois, há os vinhos.
O seu produtor, João Serra, tem a respeito deles tiradas curiosas. Por exemplo, enquanto se provavam os brancos, declarou: ― «Branco não é vinho!» Sabendo de uma chalaça do mesmo teor, atribuída ao Eça (não se entende porquê), que diz ― «Como não há vinho, beba-se branco» ―, não me engasguei.
Passando aos tintos, o produtor confessou que, em prova cega, já tem dito mal dos próprios vinhos. Também reconheceu que eles não são longevos. De resto, João Serra faz da transparência ponto de honra. Apontando, no contra-rótulo de uma das suas garrafas, as informações que julga imprescindíveis para não se enganar o consumidor, desafiou-me a procurar outro vinho que as apresentasse. Se o conseguir encontrar, ele compromete-se a oferecer garrafas suas em troca dessas, mesmo vazias, desde que exibam todas as três indicações obrigatórias, a saber: «Consumir já ou guardar por um período máximo de tantos anos»; «Desta colheita, fizeram-se tantas garrafas»; «A esta garrafa cabe o número tal». Fiquemos de olho, leitores.
Em conclusão, o produtor pode bem permitir-se dar a ideia de não morrer de amores pelos vinhos que fabrica com o enólogo Jaime Quendera. Aromáticos, capitosos e sedutores, eles cuidam de se vender a si mesmos.
Foi o que aconteceu há tempos, quando se reuniram à mesa a família, um cozido e o Quinta de Alcube Trincadeira 2008, um vinho com a indicação geográfica «Terras do Sado» (entretanto mudada em «Península de Setúbal». A propósito, vale a pena espreitar a portaria que determina a alteração, com a sua bela prosa legisladora, uma extensa lista das castas aptas ao fabrico de vinho com a nova denominação e, acima de tudo, a mimosa geologia do seu artigo terceiro: ― «Solos litólitos não húmicos derivados de materiais arenáceos pouco consolidados» etc.)
Não me sucede muito, levar o copo à boca e, fatalmente sentindo o aroma do vinho, ter de o pousar de novo, sem ter bebido, ao mesmo tempo que me recosto na cadeira e solto exclamações (discretíssimas) de um grande júbilo. Ultimamente, só me lembra beber assim, com tal dificuldade, o Falcoaria 2007, um Fernão Pires de alto gabarito ― e agora este Trincadeira sensualão da Quinta de Alcube. Na primeira oportunidade, fui até lá.
O caminho para a adega |
O seu produtor, João Serra, tem a respeito deles tiradas curiosas. Por exemplo, enquanto se provavam os brancos, declarou: ― «Branco não é vinho!» Sabendo de uma chalaça do mesmo teor, atribuída ao Eça (não se entende porquê), que diz ― «Como não há vinho, beba-se branco» ―, não me engasguei.
Passando aos tintos, o produtor confessou que, em prova cega, já tem dito mal dos próprios vinhos. Também reconheceu que eles não são longevos. De resto, João Serra faz da transparência ponto de honra. Apontando, no contra-rótulo de uma das suas garrafas, as informações que julga imprescindíveis para não se enganar o consumidor, desafiou-me a procurar outro vinho que as apresentasse. Se o conseguir encontrar, ele compromete-se a oferecer garrafas suas em troca dessas, mesmo vazias, desde que exibam todas as três indicações obrigatórias, a saber: «Consumir já ou guardar por um período máximo de tantos anos»; «Desta colheita, fizeram-se tantas garrafas»; «A esta garrafa cabe o número tal». Fiquemos de olho, leitores.
Em conclusão, o produtor pode bem permitir-se dar a ideia de não morrer de amores pelos vinhos que fabrica com o enólogo Jaime Quendera. Aromáticos, capitosos e sedutores, eles cuidam de se vender a si mesmos.
terça-feira, 22 de março de 2011
Por mor da ciência
No final de um «A Hora de Baco» recente, inteiramente dedicado às Caves São João, o seu actual gerente, Manuel José Costa, atira que, quem quer fazer vinho, mais lhe vale ler o Padre António Vieira do que o Robert Parker.
Não creio que o enólogo da casa acompanhe o gerente nos seus gostos literários. José Carvalheira não ignora que é indispensável conhecer o Mercado e, em certa medida, seguir os seus ditames.
Carvalheira é, porém, mais do que um pragmático, um homem de ciência. Não é preciso frequentar as suas aulas na Estação Vitivinícola da Bairrada (de que dirige a adega experimental, o laboratório e o departamento de Enologia) para perceber o valor do seu conhecimento, não só no que toca aos preceitos da Enologia moderna, mas também aos legados pela tradição. Para tanto, basta provar os seus vinhos — e ouvi-lo atentamente neste «A Hora de Baco».
Colhem-se aí vários ensinamentos, como quais são as propriedades que determinam a longevidade do vinho, quais são as principais qualidades de um vinho velho, ou, o que é mais interessante, que, quantos mais anos de engarrafado tiver, menos recomendável é decantar-se e arejar-se o vinho.
Depois disto, por sinal, também ouvi ao Professor Virgílio Loureiro (outro homem de muita ciência, que tem ajudado a mitigar a minha ignorância) desaconselhar o arejamento prévio e forçado dos vinhos velhos, sobretudo porque assim se perde a oportunidade de presenciar, no copo, a sua ressurreição. Em alguns casos, todavia, sempre se mostra necessário decantar o vinho e esperar que ele se liberte do chamado «pivete da garrafa».
Por conseguinte, e por mor da ciência, devo talvez retirar o que aqui deixei dito, em finais de Novembro, a um amigo, e soa a regra — que eu, no lugar dele, decantaria um certo Riesling de 1997 etc.
Ele tomou em consideração, no que mais importava, o que eu sugeria, e trouxe-me, não o Riesling, mas uma garrafa de Trimbach Gewürtztraminer 1997. Há dias, abri-a. O vinho tinha uma linda cor, estava morto, e não ressuscitou. Sempre era uma bela perda!
Não creio que o enólogo da casa acompanhe o gerente nos seus gostos literários. José Carvalheira não ignora que é indispensável conhecer o Mercado e, em certa medida, seguir os seus ditames.
Carvalheira é, porém, mais do que um pragmático, um homem de ciência. Não é preciso frequentar as suas aulas na Estação Vitivinícola da Bairrada (de que dirige a adega experimental, o laboratório e o departamento de Enologia) para perceber o valor do seu conhecimento, não só no que toca aos preceitos da Enologia moderna, mas também aos legados pela tradição. Para tanto, basta provar os seus vinhos — e ouvi-lo atentamente neste «A Hora de Baco».
Colhem-se aí vários ensinamentos, como quais são as propriedades que determinam a longevidade do vinho, quais são as principais qualidades de um vinho velho, ou, o que é mais interessante, que, quantos mais anos de engarrafado tiver, menos recomendável é decantar-se e arejar-se o vinho.
Depois disto, por sinal, também ouvi ao Professor Virgílio Loureiro (outro homem de muita ciência, que tem ajudado a mitigar a minha ignorância) desaconselhar o arejamento prévio e forçado dos vinhos velhos, sobretudo porque assim se perde a oportunidade de presenciar, no copo, a sua ressurreição. Em alguns casos, todavia, sempre se mostra necessário decantar o vinho e esperar que ele se liberte do chamado «pivete da garrafa».
Por conseguinte, e por mor da ciência, devo talvez retirar o que aqui deixei dito, em finais de Novembro, a um amigo, e soa a regra — que eu, no lugar dele, decantaria um certo Riesling de 1997 etc.
Ele tomou em consideração, no que mais importava, o que eu sugeria, e trouxe-me, não o Riesling, mas uma garrafa de Trimbach Gewürtztraminer 1997. Há dias, abri-a. O vinho tinha uma linda cor, estava morto, e não ressuscitou. Sempre era uma bela perda!
quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011
O suave milagre
«Vede a chuva que desce do céu para os nossos vinhedos; aí, entra nas raízes das videiras, para ser mudada em vinho; uma prova contínua de que Deus nos ama e gosta muito de nos ver felizes.»
Benjamin Franklin, numa carta para o abade Morellet
Benjamin Franklin, numa carta para o abade Morellet
sexta-feira, 21 de janeiro de 2011
Vinhos essenciais
Um copo de Velletri |
Na altura, Francisco José Viegas escrevia na «Notícias Sábado», revista do «Diário de Notícias» e do «Jornal de Notícias». Conservo algumas dessas páginas de tentação, preenchidas com charutos, cervejas e receitas de cozinha, que se liam já com delícias.
Há dois anos, numa crónica sobre Roma, publicada na revista «Volta ao Mundo», ele falava de um certo restaurante, onde se serve «a mais genuína comida romana», — e evocava os seus vinhos: «temperados e frios, essenciais».
Eu, que tive, entretanto, a felicidade de jantar nesse bendito restaurante e de provar os vinhos, o branco e o tinto, trazidos à mesa em jarros de vidro, senti-me grato à prosa inspirada e generosa do Francisco José Viegas.
quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
Rudimentos de gastronomia
«XI. A ordem dos comestíveis é dos mais substanciais aos mais ligeiros.
XII. A ordem das bebidas é das mais temperadas às mais capitosas e às mais perfumadas.
XIII. Pretender que não é preciso mudar de vinhos é uma heresia; a língua satura-se; e, depois do terceiro copo, o melhor vinho não suscita mais do que uma sensação obtusa.»
Brillat-Savarin, em «Fisiologia do Gosto»
XII. A ordem das bebidas é das mais temperadas às mais capitosas e às mais perfumadas.
XIII. Pretender que não é preciso mudar de vinhos é uma heresia; a língua satura-se; e, depois do terceiro copo, o melhor vinho não suscita mais do que uma sensação obtusa.»
Brillat-Savarin, em «Fisiologia do Gosto»
segunda-feira, 10 de janeiro de 2011
Boas festas
Bebi, no período das festas, incontáveis copos de vinho. Na maioria, eram vinhos que ainda não provara.
Penitencio-me por não ter tirado notas, mesmo se as circunstâncias não fossem as mais apropriadas. No entanto, tomo sempre sentido no vinho. Não me perco a esquadrinhar o seu mistério, mas reparo na sua qualidade e no bem que me sabe.
De entre esses vinhos que bebi, conservo na memória o Ribamar Garrafeira 2006, um tinto da Estremadura, frutado e tradicional; o Frei João 2005, tinto, confiável bairradino, uma colheita no ponto; o Conde de Sabugal 2006, tinto, um Douro maduro e aprazível; o amo.te 2009, um tinto alentejano temperado e uma agradável surpresa, não obstante o nome; o Vinha Paz Reserva 2006, forte tinto, um rico Dão; e o Três Bagos 2009, um branco duriense de cor viva, aromático e refrescante.
Foram bem boas, as festas.
Penitencio-me por não ter tirado notas, mesmo se as circunstâncias não fossem as mais apropriadas. No entanto, tomo sempre sentido no vinho. Não me perco a esquadrinhar o seu mistério, mas reparo na sua qualidade e no bem que me sabe.
De entre esses vinhos que bebi, conservo na memória o Ribamar Garrafeira 2006, um tinto da Estremadura, frutado e tradicional; o Frei João 2005, tinto, confiável bairradino, uma colheita no ponto; o Conde de Sabugal 2006, tinto, um Douro maduro e aprazível; o amo.te 2009, um tinto alentejano temperado e uma agradável surpresa, não obstante o nome; o Vinha Paz Reserva 2006, forte tinto, um rico Dão; e o Três Bagos 2009, um branco duriense de cor viva, aromático e refrescante.
Foram bem boas, as festas.