sábado, 14 de maio de 2011

O amador em viagem

Areias de Fernando Pó
No outro sábado, regressado de uma pequena expedição até Fernando Pó, veio-me à ideia uma frase do Francisco José Viegas: ― «(...) o sentido da viagem ― a única coisa, além do amor, que prolonga as nossas vidas.»
O que eu então rememorava eram as paisagens do caminho andado para chegar à 16.ª Mostra de Vinhos de Marateca e Poceirão. Muitos e muitos campos de vinha e de pasto, as povoações parecendo abandonadas, a linha do comboio parecendo inútil ― tudo dava a doce impressão de nos estarmos afastando do presente.
Ia no desejo de conhecer os vinhos feitos do Castelão criado nas areias e no calor de Fernando Pó. A primeira boa surpresa foi, porém, um branco de Fernão Pires, num estilo com tradição mas hoje quase desaparecido, a que se chamava «Fernão Pirão». Era um vinho das Fazendas de Almeirim, elaborado à maneira de um tinto, de cor acastanhada, forte, saboroso e, tomando a palavra de quem sabe, com um «torradinho» característico. O que ali encontrei, de marca Monte Carreira, não obstante provir de Fernando Pó, possui sensivelmente as mesmas qualidades. O preço de uma tal relíquia da vinicultura portuguesa? 2,25 € a garrafa!
Os tintos a que ia foram, no geral, uma grata descoberta. Provei, é claro, os famosos vinhos da Casa Ermelinda Freitas; mas é que aprendi que há outros Freitas naquelas terras, e muitos outros vinicultores de que se não ouve falar, a fazer outros vinhos, que são bons de outras maneiras ― e que talvez transportem nas suas redondezas, com outra naturalidade, o suave fumo de um tempo perdido para sempre, o mesmo que pressenti na viagem.
O amador prolongando a sua vida.

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