Vista de perto |
Caramba. Já vai fazer um ano, uma tarde incrível que passei na Quinta dos Termos. Tinha resolvido não escrever sobre ela. Nas semanas precedentes, visitara sucessivamente, com pouco intervalo, a Casa Ermelinda Freitas, a Casa das Gaeiras, a Herdade do Mouchão, a Quinta do Monte d'Oiro. Calhou depois a ida aos Termos, em circunstâncias diferentes, particulares. Para mais, os sucessos dessa tarde foram tão singulares, e inesperados, e pessoais, que achei por bem guardá-los.
No entanto, caí em mim. Não fiz no «Amável Vinho», até à data, uma só referência à Quinta dos Termos. O meu lapso é tão mais deplorável quanto o lugar é inspirador de enlevos, a produção, merecedora de louvores, a gente, credora de boas palavras. Pois urge repará-lo — mesmo porque, não obstante a profusão de prémios recebidos, a Quinta dos Termos ainda parece ser mal conhecida dos consumidores.
Para abreviar, e não ficar agora o leitor sem saber dos tais sucessos, resumirei o essencial. À chegada, participámos na escolha de um lote de tinto para a Noruega. Depois, almoçámos à mesa de João Carvalho, proprietário dos Termos e presidente da CVR da Beira Interior, com a família, o Prof. Virgílio Loureiro e o Prof. Malfeito Ferreira, os técnicos encarregues da enologia. (Na região, os dois académicos colaboram também com a Cooperativa da Covilhã. Por isso até o vinho de mesa lá fabricado mostra ciência…) Para digerir, o anfitrião conduziu-nos num passeio vagaroso através do relevo acidentado da propriedade, a admirar as videiras, os penedos, os carvalhos-cerquinhos, as serras que configuram a Cova da Beira, o vasto horizonte repassado de calor.
Vista do alto |
Antes de partirmos, fomos à adega provar das cubas inúmeros vinhos estremes, sempre na companhia animada e sábia do produtor e dos enólogos. Os vinhos, brancos e tintos, são de uma qualidade excelente, deliciosa. Um melhor que o outro, e são muitos. Sobretudo, estão aptos a enfrentar a prova do tempo, graças a uma rica acidez natural, esmerada pela ciência e pela sensibilidade gastronómica dos vinicultores.
O Prof. Virgílio Loureiro costuma gracejar com quem prova o seu vinho, dando à frase certa entoação que pede acordo: — «Não está mal feitinho!…» Pois não está, não, senhor. Está feito com termos!
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