sexta-feira, 6 de julho de 2012

Fazer com termos

Vista de perto

Caramba. Já vai fazer um ano, uma tarde incrível que passei na Quinta dos Termos. Tinha resolvido não escrever sobre ela. Nas semanas precedentes, visitara sucessivamente, com pouco intervalo, a Casa Ermelinda Freitas, a Casa das Gaeiras, a Herdade do Mouchão, a Quinta do Monte d'Oiro. Calhou depois a ida aos Termos, em circunstâncias diferentes, particulares. Para mais, os sucessos dessa tarde foram tão singulares, e inesperados, e pessoais, que achei por bem guardá-los.

No entanto, caí em mim. Não fiz no «Amável Vinho», até à data, uma só referência à Quinta dos Termos. O meu lapso é tão mais deplorável quanto o lugar é inspirador de enlevos, a produção, merecedora de louvores, a gente, credora de boas palavras. Pois urge repará-lo — mesmo porque, não obstante a profusão de prémios recebidos, a Quinta dos Termos ainda parece ser mal conhecida dos consumidores.

Para abreviar, e não ficar agora o leitor sem saber dos tais sucessos, resumirei o essencial. À chegada, participámos na escolha de um lote de tinto para a Noruega. Depois, almoçámos à mesa de João Carvalho, proprietário dos Termos e presidente da CVR da Beira Interior, com a família, o Prof. Virgílio Loureiro e o Prof. Malfeito Ferreira, os técnicos encarregues da enologia. (Na região, os dois académicos colaboram também com a Cooperativa da Covilhã. Por isso até o vinho de mesa lá fabricado mostra ciência…) Para digerir, o anfitrião conduziu-nos num passeio vagaroso através do relevo acidentado da propriedade, a admirar as videiras, os penedos, os carvalhos-cerquinhos, as serras que configuram a Cova da Beira, o vasto horizonte repassado de calor.

Vista do alto

Antes de partirmos, fomos à adega provar das cubas inúmeros vinhos estremes, sempre na companhia animada e sábia do produtor e dos enólogos. Os vinhos, brancos e tintos, são de uma qualidade excelente, deliciosa. Um melhor que o outro, e são muitos. Sobretudo, estão aptos a enfrentar a prova do tempo, graças a uma rica acidez natural, esmerada pela ciência e pela sensibilidade gastronómica dos vinicultores.

O Prof. Virgílio Loureiro costuma gracejar com quem prova o seu vinho, dando à frase certa entoação que pede acordo: — «Não está mal feitinho!…» Pois não está, não, senhor. Está feito com termos!

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