sexta-feira, 18 de maio de 2012

Entrevista com Onésimo Teotónio Almeida. Capítulo III: Dois touros.

É possível que o Onésimo não tenha uma anedota ou um episódio em redor do vinho?
Episódios? Com vinho? Bom, já contei alguns. Lembro-me de, quando jovem, me terem oferecido um passeio à ilha do Faial, algo nada fácil para quem vivia em S. Miguel. Ficava longe, no cabo do mundo. Levaram-me à festa de S. João da Caldeira. O Núcleo Cultural da Horta patrocinara um concurso de quadras e insistiu em que eu participasse. Escrevi umas quantas, mas só me recordo de uma a propósito da animação que lá vi, activada a garrafão:
S. João quando novinho
Veio à festa da Caldeira
Nunca tinha visto vinho,
Dançou pela noite inteira.
As outras eram mais ou menos nesse tom. Nada de especial, porém o tema era o ambiente da festa aquecido pelo vinho.
As anedotas são sobretudo de borrachos. Costumo contá-las em série e receio que sejam todas conhecidas. Além de que anedotas de bêbados exigem encenação. Por escrito, não passam bem. As melhores do género que conheço são de irlandeses; ora essas metem inevitavelmente whiskey ou cerveja. Para incluir vinho têm de ser da Europa mediterrânica. Ou atlântica. Por isso aí vai uma das minhas ilhas:
Numa tourada à corda na Terceira um dos arrojados toureiros, que em plena rua se atiram a enfrentar o bravo animal, estava toldado pelo vinho, não conseguindo por isso ser rápido bastante quando o touro investiu contra ele e quase o espatifou. No hospital, a explicar ao médico os ossos partidos, contou então que viu o touro a correr contra ele e quis fugir: Grosso como estava, comecei a ver dois touros. Havia uma árvore ali perto e ia proteger-me por detrás dela mas, como estava a ver tudo a dobrar, também vi duas árvores. Tinha que ser rápido e então tive a pouca sorte de me esconder detrás da árvore falsa…  e apanhei com o touro verdadeiro.
Para terminar, vai uma ocorrida num almoço com um colega professor de Filosofia na Brown, Jim Van Cleve. Perguntei-lhe se ia beber alguma coisa, pois iria pedir o meu indispensável vinho. Escusou-se com o facto de ter de dar uma aula a seguir. Também eu tenho, comentei. Beba um copo, homem! Vai ver que o discurso lhe sai mais suave. O Jim esperou uns momentos antes de reagir: E o raciocínio… mais tosco.

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