sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Apanhei-te, Beaujolinho

Senhoras e senhores, amigos leitores. Ontem, abandonado, apeado, desterrado, e por todas as formas impossibilitado de rumar à Festa do Vinho Novo no Café Tati, como apetecia, mas profissionalmente obstinado e provisoriamente ousado, montei-me no meu fiel duas-pernas e caminhei mais de seis quilómetros em busca de uma garrafa de Beaujolais Nouveau. Quer dizer, deu-me a maluqueira. Ou será que tenho um problema com a bebida? Fosse o que fosse, passou-me tudo quando me sentei a beber sensivelmente o meu quartilho de Gamay.

Grâces à Dieu.

Quanto a notas de prova, basta repetir as de Bernard Pivot, que não falham por muito: «um vinho alegre, arrojado, de bochechas vermelhas, boca de Primavera, que se degusta menos do que se emborca como um elixir de juventude e de bom humor»; «uma curiosidade, uma felicidade de circunstância, uma gulodice temporã e apetitosa», com «os seus aromas de pomar de padre e de canteiro de professor primário».

À votre, amis français.

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Vinho novo, vida nova

«Para compreender o sucesso fenomenal do beaujolais nouveau, é preciso ser melhor psicólogo do que enólogo. Novembro é o mês mais triste do ano. Tempo frio, húmido, ventoso. O Verão e as férias não são mais do que fotografias. No dia 1 ou 2, visitou-se os cemitérios. O dia 11 celebra a vitória de milhões de mortos. Há sempre greves. O Natal parece ainda muito longe. Aborrece-se. Tem-se o moral nas meias. E eis que, na terceira quinta-feira, irrompe um vinho alegre, arrojado, de bochechas vermelhas, boca de Primavera, que se degusta menos do que se emborca como um elixir de juventude e de bom humor. Na melancolia do Outono, uma vontade de festa popular exprime-se através do beaujolais nouveau. A sua sorte é chegar no momento certo.

Não é senão uma curiosidade, uma felicidade de circunstância, uma gulodice temporã e apetitosa. Em Tóquio como em Nova Iorque, em Vancouver como em Seul, ele destoa, porque é um dos raros produtos a afastar-se da tradição do grande luxo à francesa. Recebe-se-lo sem cerimónias e aprecia-se — senão, porque o beberiam estes estrangeiros? — os seus aromas de pomar de padre e de canteiro de professor primário.»

Bernard Pivot, em Dictionnaire Amoureux du Vin (2006)

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Damasceno 2013 (branco)


Quinta da Serralheira – Vinhos. Regional Península de Setúbal. Fernão Pires, Chardonnay, Verdelho. Nuno Cancela de Abreu (enol.). 13,5% vol. 14 € (?) (490 Taberna STB).

Citrino como um limão maduro nos aromas, arredondado nos sabores, mineral nos confins. Deu excelente conta de si com duas ostras de Setúbal (tão-só as que restavam às 14h de um domingo de Verão), um tachinho de mexilhões e um delicado arroz de lingueirão.