segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Carambíssima!

Esta noite, cá em casa, temos uma ementa especial para a ceia. Primeiro, uma canja fervente, para esquentarmos.

Jacinto ocupou a sede ancestral ― e durante momentos (de esgazeada ansiedade para o caseiro excelente) esfregou energicamente, com a ponta da toalha, o garfo negro, a fusca colher de estanho. Depois, desconfiado, provou o caldo, que era de galinha e rescendia. Provou ― e levantou para mim, seu camarada de misérias, uns olhos que brilharam, surpreendidos. Tornou a sorver uma colherada mais cheia, mais considerada. E sorriu, com espanto: ― «Está bom!»
Estava precioso: tinha fígado e tinha moela: o seu perfume enternecia: três vezes, fervorosamente, ataquei aquele caldo.
― Também lá volto! exclamava Jacinto com uma convicção imensa. É que estou com uma fome... Santo Deus! Há anos que não sinto esta fome.
Foi ele que rapou avaramente a sopeira.

Como prato principal, arroz com favas.

E já espreitava a porta, esperando a portadora dos pitéus, a rija moça de peitos trementes, que enfim surgiu, mais esbraseada, abalando o sobrado ― e pousou sobre a mesa uma travessa a transbordar de arroz com favas.

Para a sobremesa, estou a magicar um ananás com Algarseco e mel ― porque não temos Madeira.

Mas o Domingos servia o ananás. E o Ega provou e rompeu em clamores de entusiasmo. Oh que maravilha! Oh que delícia!
― Como fazes tu isto? Com Madeira...
― E génio! exclamou Carlos. Delicioso, não é verdade? Ora digam-me se tudo o que eu pudesse fazer pela civilização valeria este prato de ananás! É para estas coisas que eu vivo! Eu não nasci para fazer civilização...

Quanto ao vinho, será Colares, como vem nos livros.

Ah, que dia! Jantei num gabinete do Hotel Central, solitário e egoísta, com a mesa alastrada de Bordéus, Borgonha, Champagne, Reno, licores de todas as comunidades religiosas ― como para matar uma sede de trinta anos! Mas só me fartei de Colares.

E, caramba, rapazes, carambíssima! Lá vai à do Eça, que nasceu faz hoje 168 anos!

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