É bom ler o Jefford. Graças à sua crónica de 20 de Maio, descobri um casal americano que vive e produz vinho no alto de uma serra na Califórnia, na região do Vale de Napa.
Ela, Carole Meredith, é uma antiga professora do Departamento de Viticultura e Enologia da UC Davis, Universidade da Califórnia. Ele, Steve Lagier, é um vinicultor experiente, produtor de “vinhos de garagem” e, durante catorze anos, empregado na célebre Robert Mondavi, espécie de sinédoque para todo o Napa Valley.
Plantaram eles mesmos a sua pequena vinha, na zona montanhosa de Mount Veeder. Como dizem na introdução do seu sítio na Internet, não têm empregados, nem consultores, nem parceiros, nem investidores. Quando começaram, tinham somente os seus ordenados «e a determinação para trabalhar arduamente e viver gastando pouco.»
Cultivam Syrah, Mondeuse, Malbec e Zinfandel, todas variedades tintas. A vinificação é elementar. A fruta é escolhida na vinha, depois desengaçada e esmagada. Fermentado o mosto, não há lugar a mais maceração. O vinho é prensado e deposto em barris usados de carvalho francês (compram-nos três vezes usados e continuam a usá-los «até se começarem a desmantelar»), onde passa de dezoito a vinte meses. Nesse tempo, trasfegam-no duas vezes. Por fim, colam o vinho com claras de ovo (a colagem é um método de clarificação por acção de uma dada substância, aqui as claras de ovo, que faz sedimentar e precipitar as partículas em suspensão), trasfegam-no mais uma vez e engarrafam.
O que mais comove no caso de Carole e Steve é justamente uma certa visão do mundo, da vida, do vinho — clara, natural, simples, ou seja, essencial. Por isso se apresentam assim, sem tergiversações: «Estes são vinhos de vinha. A nossa responsabilidade é salvaguardar o vinho durante a sua passagem da vinha à garrafa e protegê-lo de demasiada enologia.»
Havemos de ir à Califórnia.
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