Um diálogo entre Nícias e Demóstenes, convencidos de não se poderem livrar de certo escravo da Paflagónia.
«NÍCIAS
É melhor então morrer; mas procuremos a morte mais heróica.
DEMÓSTENES
Deixa-me pensar, qual é a mais heróica?
NÍCIAS
Bebamos o sangue de um touro; foi essa morte que Temístocles escolheu.
DEMÓSTENES
Não, isso não, antes um copo cheio de bom vinho puro em honra do Bom Génio; porventura, podemos topar com uma ideia feliz.
NÍCIAS
Olha-me este! «Vinho puro»! A tua cabeça está em querer beber? Será que um homem pode lançar uma ideia brilhante em estando bêbado?
DEMÓSTENES
Sem dúvida. Vai, parvo, rebenta-te com água; atreves-te a acusar o vinho de toldar a razão? Dá-me exemplos de efeitos mais maravilhosos que os do vinho. Ouve! Quando um homem bebe, é rico, tudo o que toca é bem sucedido, ganha processos legais, é feliz e ajuda os amigos. Anda lá, traz cá depressa um jarro de vinho, para eu poder embeber o meu cérebro e ter uma ideia engenhosa.
NÍCIAS
Meu Deus! O que pode fazer por nós tu pores-te a beber?
DEMÓSTENES
Muito. Mas traz-mo, enquanto eu tomo o meu lugar. Uma vez bebido, espalharei pequeninas ideias, pequeninas frases, pequeninos raciocínios por toda a parte.»
Aristófanes, em «Os Cavaleiros»
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