quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Eis o diabo

Por estes dias, «emigrar» é o verbo. Em Portugal, nós conjugamo-lo como ninguém. Temos séculos de prática. Está-nos na massa do sangue. Quando não nos achamos em apuros financeiros, é o país que é estreito, e triste, e uma choldra ignóbil — enquanto o Mundo pula e avança, e, mesmo que tenha defeitos, ao menos não são os de Portugal, sem dúvida os mais execráveis do mundo.

Hoje, todavia, quem considere a possibilidade de partir deve ter em conta este revés fatal: é que deixará de poder ir ao Lidl comprar, por um ou dois euros e tal, no máximo, o seu Azinhaga de Ouro Reserva, da Castelinho, os seus Torre de Ferro, de Cabriz*, o seu branquinho Uvas Douradas, da Cooperativa de Cantanhede; e os rapazes, apetecendo um vinho capaz mas conforme às magras posses, em não havendo onde pilhar o seu Festa Rija, da Alorna, ver-se-ão forçados a embeber as detestáveis misturas de vinhos da União Europeia.

Portanto, se, por um lado, ansiamos por mandar Portugal às malvas, por outro, não queremos misturas. Donde, compatriotas: — Emigrar ou não emigrar? Eis o diabo.

* Aliás, da Dão Sul. Não é certo que seja de Cabriz, porque, para além desta, a empresa tem mais três quintas no Dão.

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