sexta-feira, 6 de abril de 2012

Jovem senhora de idade

O Jogo da Bola, como é conhecida a airosa praça central da Ericeira, tem dois renques de plátanos centenários. São dezoito, ao todo. Desde que o Mundo se não acabe entretanto, devemos visitá-los e saudá-los repetidas vezes em 2013. Completarão 110 anos, votados à abnegada função de prover oxigénio à atmosfera, refúgio às aves e sombra aos veraneantes.
Estes plátanos vetustos, comparados com o grandioso espécime do Rossio de Portalegre, não passam de uns rapazes entradotes. Aquela soberba árvore, cuja copa rondará 35 metros de diâmetro, foi plantada em 1838. Camilo não tinha mais que 13 anos, e outros sete andariam antes de nascer o Eça.

O plátano de Portalegre

Posta em sossego a pouca distância, a Tapada do Chaves, embora muito mais jovem, também é senhora de provecta idade.
Placidamente estirada numa encosta da Serra de São Mamede, a contemplar a paisagem bucólica, não pode deixar de notar que, nos anos deste século, os caminhos se afastaram. De raro em raro, lá passa fora um ou outro automóvel transviado.
Se algum entra a propriedade do Frangoneiro, a prestar visita à senhora, ela não se altera nem se espanta. Ao invés, com modos dignos e serenos, chama de volta o enorme cão pachorrento, que sai a ver quem chega. Um belo animal, igualmente entrado na velhice, com um porte de respeito, o olhar doce e melancólico. Obedece de pronto à voz firme e, desinteressado, retorna ao chão e à modorra o corpanzil.

Aspecto da Tapada do Chaves

A senhora, então, fazendo as honras, apresenta os seus domínios. Mostra a vinha mais antiga. Oitenta e tal anos, já não sabe precisar. Na casa onde moraram os Baptista Fino, conta como, em 1998, quatro anos após se ter construído uma linda adega, a família vendeu tudo aquilo ao grupo da Murganheira. Depois passou-se um mau bocado, com o imbróglio em que se achou a Sociedade Lusa de Negócios. Uma macacoa que, por pouco, levava desta pra melhor a senhora.
Agora, convalescida, no seio de um Interior abatido, observa que o fulgor dos tempos áureos pouco alumia o Futuro. Do alto posto da idade, olha-se ao redor com prudente cepticismo.
Mas então. Lá o que se há-de fazer é persistir em fabricar o bom vinho do Alto Alentejo. Ora coma você este queijo, esse enchido, uma côdea de pão, e prove cá o branco novo e os tintos «Reserva». Quanto ao mais, cavalheiro, é vento que passa sobre os plátanos.

(A propósito da Tapada do Chaves, deve ler-se um texto de Pedro Garcias, publicado há tempo no «Fugas». Aliás, este redactor lê-se sempre com proveito. Escreve sobre o vinho como poucos, num estilo desenvolto, elegante e sensato. Confira.)

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