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Tão boa. |
«Uma das grandes vantagens de sermos portugueses é termos um clima perfeitamente oposto ao brasileiro. Em boa verdade, é no inverno que nos chegam do Brasil as melhores limas e, como tal, é natural que aliviemos o frio e a falta de luz do sol com umas belas Caipirinhas.
(...)
Para já, há pelo menos duas Caipirinhas. Existe a mais conhecida entre nós — a baiana — que leva gelo picado e é batida (agitada no shaker). Mas a Caipirinha carioca, mais preguiçosa mas não menos deliciosa (sobretudo se a cachaça, das quais há mais de mil de diferentes idades e proveniências, for valente), é quase desconhecida.
Para fazer uma Caipirinha carioca, usa-se meia lima ou uma lima inteira, cortada em quatro ou oito pedaços respectivamente; pisa-se, com um pilão ou um cabo de vassoura, caso não se tenha um maço brasileiro específico para Caipirinhas; amassando-o ligeiramente com açúcar pilé (o melhor de todos é o açúcar brasileiro União, de grânulo muito fino, à beira do icing sugar europeu) e acrescentam-se, num copo old-fashioned, três ou quatro cubos completos de gelo.
Por cima, deita-se a cachaça; dá-se-lhe três ou quatro voltas com uma colherzinha ou um misturador de plástico, para puxar o açúcar — e pronto! Dirão os meus compatriotas que se trata de uma Caipirinha preguiçosa mas, se a lima e a cachaça forem boas, não há melhor.
(...)
Temos hoje em Portugal uma pequena mas digna escolha de cachaças (eu cá prefiro a Velho Barreiro, mas todas as que há são boas; sendo só pena que a clássica Pitú já não se ache em lado nenhum) (...)»
Miguel Esteves Cardoso, em Com os Copos (2007)
Tão voláteis, os amores de Inverno. |
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