quarta-feira, 9 de outubro de 2013

O malhadinhas

Sábado passado, regressámos ao Restelo. Havia muito tempo ― demasiado ― que não contemplávamos, desde a nossa velha bancada de pedra, o relvado do Belém, o céu azul por cima dele e, além do rio, o Cristo-Rei. Regressámos, e, agora que sabemos a importância de fazer parte, não mais abandonaremos o nosso lugar. Os homens permanecem.

Ora, uma vez aviado o Olhanense, adversário dessa tarde, saímos do estádio, subimos a avenida e entrámos no Supercor. Foram outros noventa minutos, pelo menos, entre provar os curiosos vinhos da Herdade da Madeira Velha, escolher outros para casa e apanhar arroz, laranjas, pão e, por razões óbvias, um pedaço de Blue Stilton.

Entre as garrafas que trouxemos, vieram um branco e um tinto da Cooperativa Agrícola do Távora, chamados ambos «O malhadinhas». 2,15 € cada. Conheci o branco neste Verão, a colheita de 2007, que encontrei num Leclerc a 1,59 €. Óptimo vinho, espertíssimo ainda.

Mas é o elogio dos contra-rótulos que quero fazer. Ao invés de cantarolar as ladainhas em voga, estes, na sua simpleza, cumprem a elementar função de despertar o apetite e o interesse.

Os brancos são apresentados como «notavelmente frescos e florais», com «a vivacidade marialva de um frutado discreto» e «um espírito tónico». Um frutado discreto, leitor! Convenhamos que, nos tempos exuberantes e, digamos, frutadinhos que correm, é de marialva.

O tinto diz que «cheira a cravo» (e cheira!) «e o sabor é voluptuoso, a cerejas maduras» (e é!). «Na ordem dos tintos, serve-se primeiro, com os mimos e as novidades de cada época.» Com quem sabe é que se aprende, ó modernaços!

Quanto a nós, leitor, se andar por lá, vemo-nos no Supercor do Restelo, quando nos formos abastecer de «O malhadinhas», no fim de o Belenenses aviar o Porto, próximo freguês. Ah, as coisas simples.

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