― Ó mãe, os produtores nunca me amostram os vinhos deles... Só amostram aos outros meninos, e eles são estúpidos...
― Oh, filho! Estúpido é beber Uvas Douradas e esses vinhos chinfrins.
quarta-feira, 30 de outubro de 2013
sexta-feira, 25 de outubro de 2013
Exortação aos restauradores
Se notas, prezado restaurador, naturalmente apreensivo, que a freguesia da tua chafarica não te bebe os vinhos, embora não peças por eles, em regra, mais de três ou quatro vezes o que te custaram, salvo, é claro, um ou outro, de nome mais sonante, em que carregas um poucochinho ― faz assim, como eu vi num tasco da baixa: vinho da casa, Palmela do rótulo roxo, por 4 € a garrafa. Está bem que a margem de lucro não passa dos cento e tal por cento, mas, para tempos desesperados...
quarta-feira, 23 de outubro de 2013
Um jantar enunciado
Jantar. A mulher amada comprou iscas de fígado de porco. Iscas de fígado de porco. Enunciar é uma forma de saborear. Iscas de porco à portuguesa, passe o pecadilho de, na cerimónia de fritura, substituir por azeite a banha que manda a tradição. Justamente, batatas cozidas. Batatas cozidas justamente, como quem sabe cozê-las. De pospasto, marmelo assado. Bucellas de 2008, Arinto estreme, da vinha-d'alhos em diante. Não sei se estão a ver.
segunda-feira, 21 de outubro de 2013
Saber ganhar
Instagrama contemplativo |
O Belém está fora da competição pela Taça de Portugal. Perdeu com a Briosa nos penáltis. Antes assim, perder com a Briosa e nos penáltis. É muito difícil bater a estudantada quando toca a penáltis. Então se os rapazes se metem em brios, são impiedosos. Os nossos, ontem, falharam dois, acertando em cheio no mesmo poste da baliza. O equivalente a atirar com o vinho à bochecha, num clamoroso falhanço das goelas.
Cá os sócios fizeram o que lhes competia: fomos ao Malhadinhas, para repor, voltámos para casa, abrimos o branco e sentámo-nos a treinar a marcação de penáltis. Refrescados os ânimos, deliberámos que, doravante, todos os jogos do Belém vão a penáltis. Seja no tempo regulamentar ou no prolongamento, nunca mais perderemos jogo algum.
quarta-feira, 16 de outubro de 2013
Castello d'Alba Vinhas Velhas Grande Reserva 2011
Digo eu assim para um velho amigo: «Ai queres vir jantar cá a casa, meu menino? Então, faz favor, garrafinhas de vinho, somente acima de cinco euros.» (Velhos amigos têm desconto.) «Por exemplo, tanto um Duas Quintas como um Barca Velha cumprem o requisito, porquanto custam ambos mais de cinco euros. Fica ao teu critério.» Não gosto de ser impositivo.
Ele, que é danado, acertou na mosca, apresentando-se aqui com uma garrafa deste Castello d'Alba Vinhas Velhas Grande Reserva 2011, mais outra daquele obscuro tintão, Horta do Bispo 2005 (ainda à venda no Jumbo!)
VDS – Vinhos do Douro Superior. DOC Douro. Tinta Amarela, Tinta Barroca, Tinta Francisca, Tinta Roriz, Touriga Franca, Touriga Nacional, Sousão. Rui Madeira (enol.). 14,5% vol. Cerca de 10 €.
Grande vinho. Possante, porventura ainda insondável, mas muito rico, muito longo e muito bom. A mim, não me cheirou senão a perfume de mulher ― e a vinho. Palavra de honra. O meu camarada evocou móveis antigos e óleo de cedro. (É proprietário...) Mais tarde, tomou-me uma inspiração de crítico em delirium tremens: Portentosa figura, feminilmente perfumada e oculta em capote de cetim, com óleo de cedro lustrando aparador em pau-preto. Crítico: vai buscar.
Ele, que é danado, acertou na mosca, apresentando-se aqui com uma garrafa deste Castello d'Alba Vinhas Velhas Grande Reserva 2011, mais outra daquele obscuro tintão, Horta do Bispo 2005 (ainda à venda no Jumbo!)
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VDS – Vinhos do Douro Superior. DOC Douro. Tinta Amarela, Tinta Barroca, Tinta Francisca, Tinta Roriz, Touriga Franca, Touriga Nacional, Sousão. Rui Madeira (enol.). 14,5% vol. Cerca de 10 €.
Grande vinho. Possante, porventura ainda insondável, mas muito rico, muito longo e muito bom. A mim, não me cheirou senão a perfume de mulher ― e a vinho. Palavra de honra. O meu camarada evocou móveis antigos e óleo de cedro. (É proprietário...) Mais tarde, tomou-me uma inspiração de crítico em delirium tremens: Portentosa figura, feminilmente perfumada e oculta em capote de cetim, com óleo de cedro lustrando aparador em pau-preto. Crítico: vai buscar.
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Palavra(s)-chave:
Delirium Tremens,
Douro,
Novas Notas Amadoras,
Rui Madeira,
Sousão,
Tinta Amarela,
Tinta Barroca,
Tinta Francisca,
Tinta Roriz,
Tintos,
Touriga Franca,
Touriga Nacional
sábado, 12 de outubro de 2013
Soluço terapêutico
«O meu médico disse-me para beber uma garrafa de vinho depois dum banho quente, mas eu nem sequer consegui acabar de beber o banho quente!»
Tommy Cooper
Tommy Cooper
quarta-feira, 9 de outubro de 2013
O malhadinhas
Sábado passado, regressámos ao Restelo. Havia muito tempo ― demasiado ― que não contemplávamos, desde a nossa velha bancada de pedra, o relvado do Belém, o céu azul por cima dele e, além do rio, o Cristo-Rei. Regressámos, e, agora que sabemos a importância de fazer parte, não mais abandonaremos o nosso lugar. Os homens permanecem.
Ora, uma vez aviado o Olhanense, adversário dessa tarde, saímos do estádio, subimos a avenida e entrámos no Supercor. Foram outros noventa minutos, pelo menos, entre provar os curiosos vinhos da Herdade da Madeira Velha, escolher outros para casa e apanhar arroz, laranjas, pão e, por razões óbvias, um pedaço de Blue Stilton.
Entre as garrafas que trouxemos, vieram um branco e um tinto da Cooperativa Agrícola do Távora, chamados ambos «O malhadinhas». 2,15 € cada. Conheci o branco neste Verão, a colheita de 2007, que encontrei num Leclerc a 1,59 €. Óptimo vinho, espertíssimo ainda.
Mas é o elogio dos contra-rótulos que quero fazer. Ao invés de cantarolar as ladainhas em voga, estes, na sua simpleza, cumprem a elementar função de despertar o apetite e o interesse.
Os brancos são apresentados como «notavelmente frescos e florais», com «a vivacidade marialva de um frutado discreto» e «um espírito tónico». Um frutado discreto, leitor! Convenhamos que, nos tempos exuberantes e, digamos, frutadinhos que correm, é de marialva.
O tinto diz que «cheira a cravo» (e cheira!) «e o sabor é voluptuoso, a cerejas maduras» (e é!). «Na ordem dos tintos, serve-se primeiro, com os mimos e as novidades de cada época.» Com quem sabe é que se aprende, ó modernaços!
Quanto a nós, leitor, se andar por lá, vemo-nos no Supercor do Restelo, quando nos formos abastecer de «O malhadinhas», no fim de o Belenenses aviar o Porto, próximo freguês. Ah, as coisas simples.
Ora, uma vez aviado o Olhanense, adversário dessa tarde, saímos do estádio, subimos a avenida e entrámos no Supercor. Foram outros noventa minutos, pelo menos, entre provar os curiosos vinhos da Herdade da Madeira Velha, escolher outros para casa e apanhar arroz, laranjas, pão e, por razões óbvias, um pedaço de Blue Stilton.
Entre as garrafas que trouxemos, vieram um branco e um tinto da Cooperativa Agrícola do Távora, chamados ambos «O malhadinhas». 2,15 € cada. Conheci o branco neste Verão, a colheita de 2007, que encontrei num Leclerc a 1,59 €. Óptimo vinho, espertíssimo ainda.
Mas é o elogio dos contra-rótulos que quero fazer. Ao invés de cantarolar as ladainhas em voga, estes, na sua simpleza, cumprem a elementar função de despertar o apetite e o interesse.
Os brancos são apresentados como «notavelmente frescos e florais», com «a vivacidade marialva de um frutado discreto» e «um espírito tónico». Um frutado discreto, leitor! Convenhamos que, nos tempos exuberantes e, digamos, frutadinhos que correm, é de marialva.
O tinto diz que «cheira a cravo» (e cheira!) «e o sabor é voluptuoso, a cerejas maduras» (e é!). «Na ordem dos tintos, serve-se primeiro, com os mimos e as novidades de cada época.» Com quem sabe é que se aprende, ó modernaços!
Quanto a nós, leitor, se andar por lá, vemo-nos no Supercor do Restelo, quando nos formos abastecer de «O malhadinhas», no fim de o Belenenses aviar o Porto, próximo freguês. Ah, as coisas simples.
quinta-feira, 3 de outubro de 2013
Duas Pedras 2011
Sonho Lusitano Vinhos. Regional Alentejano. Touriga Nacional, Syrah, Viognier. Rui Reguinga (enol.). 14,5% vol. 5,89 € (Jumbo).
Como a frescura da Serra lhes não bastasse, Mayson e Reguinga ajuntaram às castas negras deste tinto um pouco de Viognier, à moda do Côte-Rotie e do Monte d'Oiro*. Oh, vinho raro! Oh, formosura! Oh, pureza! Eia, Serra! Hup-lá-hô, sensibilidade enológica! (Enológica, ouviram? Enológica: ramo da filosofia vinícola que visa determinar o que é verdadeiro.) Tanto engraçaram contigo, Duas Pedras, o lacão assado no forno como o arroz de favas com cacholeira e chouriço mouro de Portalegre.
* Segundo os franceses, a casta Viognier acresce à Syrah finesse e aroma. Jancis Robinson, citando vinicultores da Austrália e da Califórnia, diz que «também ajuda a estabilizar a cor do vinho e aprofunda a sua textura.»
Como a frescura da Serra lhes não bastasse, Mayson e Reguinga ajuntaram às castas negras deste tinto um pouco de Viognier, à moda do Côte-Rotie e do Monte d'Oiro*. Oh, vinho raro! Oh, formosura! Oh, pureza! Eia, Serra! Hup-lá-hô, sensibilidade enológica! (Enológica, ouviram? Enológica: ramo da filosofia vinícola que visa determinar o que é verdadeiro.) Tanto engraçaram contigo, Duas Pedras, o lacão assado no forno como o arroz de favas com cacholeira e chouriço mouro de Portalegre.
* Segundo os franceses, a casta Viognier acresce à Syrah finesse e aroma. Jancis Robinson, citando vinicultores da Austrália e da Califórnia, diz que «também ajuda a estabilizar a cor do vinho e aprofunda a sua textura.»