segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Bocas roxas de vinho

Descoberta de uma tarde nevoenta e chuvosa, despedido um último copo de Meandro do Vale Meão. Ir no rio das coisas, nada mais.


Bocas roxas de vinho

Bocas roxas de vinho
Testas brancas sob rosas,
Nus, brancos antebraços
Deixados sobre a mesa:

Tal seja, Lídia, o quadro
Em que fiquemos, mudos,
Eternamente inscritos
Na consciência dos deuses.

Antes isto que a vida
Como os homens a vivem,
Cheia da negra poeira
Que erguem das estradas.

Só os deuses socorrem
Com seu exemplo aqueles
Que nada mais pretendem
Que ir no rio das coisas.

Ricardo Reis (1915)

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