terça-feira, 9 de abril de 2013

A alma do vinho

Por ocasião do aniversário de nascimento de Baudelaire, uma tradução imperfeita, como todas.


Uma noite, a alma do vinho cantava nas botelhas:
«Homem, a ti dirijo, ó caro deserdado,
Sob a minha prisão de vidro e minhas ceras vermelhas,
Um canto de luz e fraternidade repassado!

Eu sei quanto é preciso, sobre a colina ardente,
De penas, de suor e de sol abrasador
Para engendrar a minha vida e dar-me a alma pertencente;
Mas não hei-de ser ingrato ou malfeitor,

Porque sinto uma alegria imensa quando me deito
Na garganta de um homem desgastado por seus trabalhos,
E é um doce túmulo o seu caloroso peito
Onde passo bem melhor que nos frios sob os soalhos.

Ouves tu os refrões dos domingos ressoando
E a esperança que chilreia em meu seio palpitante?
Cotovelos sobre a mesa e tuas mangas arregaçando,
Tu me glorificarás e estarás bem o bastante;

Eu acenderei os olhos de tua mulher aprazida;
A teu filho restituirei a sua força e suas cores
E serei para aquele fraco atleta da vida
O óleo que reforça os músculos dos lutadores.

Em ti cairei, vegetal ambrosia,
Grão precioso lançado pelo eterno Semeador,
Para que do nosso amor nasça a poesia
Que brotará rumo a Deus como uma rara flor!»

Sem comentários: