terça-feira, 23 de abril de 2013

Saber

Hoje é Dia Mundial do Livro. Shakespeare morreu, e terá nascido, a 23 de Abril (1564-1616).


«Um livro, quando encontra um leitor, vai enriquecê-lo extraordinariamente, ampliar a sua personalidade, dá-lo a conhecer a si próprio. (…) Quem lê um livro, muitas vezes, no final já começa a ser um homem diferente.»

Urbano Tavares Rodrigues, no documentário O Adeus à Brisa (2008)


«Com alegria e riso venham as rugas de velho,
E que antes o meu fígado aqueça com vinho
Do que o meu coração gele com gemidos mortificantes.»

William Shakespeare, em O Mercador de Veneza (c. 1596)

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Adega de Palmela 2011 (tinto)

Por este e por outros é que ainda não partimos da agreste praia da Ericeira, num belo iate triste chamado D. Amélia.

O tinto em questão recebeu medalha de prata no Concurso Nacional de Vinhos 2012. A garrafa não o ostenta. A sua apresentação é modesta e apelativa. Consta que é conhecido por «Palmela do rótulo roxo». Custa 1,89 €. 5 reais, gente boa.

Por cá, ainda há tempo para o açambarcar no Pingo Doce. Está a 1,49 €. O preço da prata da casa.


DO Palmela. Castelão, Cabernet Sauvignon, Trincadeira, Aragonez. Luís Silva (enol.) (?). 13,5% Vol. 1,49 € (Pingo Doce).
Um aroma limpo, de fruta e especiaria. Com tempo, chega a lembrar sericaia* — a canela, a ameixa em calda. De sabor, frutado, uma vaga doçura, acidez e taninos bem doseados. Bom e corredio.

* Uma curiosidade: sericaia provém do malaio «srikaya», que designa uma iguaria muito fina.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Amador, por minha fé

Há uma semana, Andrew Jefford — autor do sensato e útil 101 Coisas que Deve Saber sobre Vinhos (Cotovia, 2001) — dedicou a sua coluna das segundas-feiras na revista Decanter ao tema das notas de prova. Em sua opinião, as de Robert Parker «permanecem o padrão de ouro. São extensas o suficiente para fazer justiça aos vinhos sobre que está escrever e, embora não polidas em nenhum sentido literário, transmitem o carácter do vinho com grande destreza, são intrinsecamente coerentes, muitas vezes enquadram o vinho nas colheitas anteriores ou em outros contextos vinários, sendo também subtilmente preditivas sobre a sua trajectória evolutiva, e fervilham com o tipo de energia e entusiasmo que pode animar o leitor a fazer uma compra.»

Recordo muitas vezes uma passagem de A Relíquia, do Eça: «esse “descarado heroísmo de afirmar”, que, batendo na Terra com pé forte, ou palidamente elevando os olhos ao Céu — cria, através da universal ilusão, ciências e religiões.»

Com efeito, no campo da nossa escrítica de vinhos, o heróico descaramento — o topete — é tamanho e tão frequente, que não apenas se faz uso comum da afirmação, mas também se generalizou a utilização de um número de palavras exóticas, que por sinal não existem, como “compotado”, “especiado”, “limonado” etc. Nas fileiras de autores, bloguistas, críticos, jornalistas e demais peritos, há verdadeiros super-heróis da afirmação, façanhudos temíveis a adjectivar, e a exclamar, e a pontuar.

Quanto a mim, por minha fé, não passo de um amador. Bebo vinhos baratos. Publico notas de prova deliberadamente simples. Desconfio dos entendidos, de haver tantos entendidos, das associações de entendidos. Prefiro amiúde o inactual — a tradição. Tenho pena que seja moda dizer “private selection” em vez de garrafeira, “wine bar” em vez de bar de vinho(s), ou bar vínico, “wine lover” em vez de amante, ou amador, ou apreciador de vinho(s), … Provavelmente, estou em minoria.

Pelo que vai exposto, caro leitor, tive uma ideia tola e feliz: um grupo de AA: Apreciadores Amadores. Um grupo almoçante de amparo e camaradagem entre humildes apreciadores amadores, que porém fazem algum caso das palavras. Chamemos-lhe — os Vencidos do Vinho. Estão abertas as inscrições.

terça-feira, 9 de abril de 2013

A alma do vinho

Por ocasião do aniversário de nascimento de Baudelaire, uma tradução imperfeita, como todas.


Uma noite, a alma do vinho cantava nas botelhas:
«Homem, a ti dirijo, ó caro deserdado,
Sob a minha prisão de vidro e minhas ceras vermelhas,
Um canto de luz e fraternidade repassado!

Eu sei quanto é preciso, sobre a colina ardente,
De penas, de suor e de sol abrasador
Para engendrar a minha vida e dar-me a alma pertencente;
Mas não hei-de ser ingrato ou malfeitor,

Porque sinto uma alegria imensa quando me deito
Na garganta de um homem desgastado por seus trabalhos,
E é um doce túmulo o seu caloroso peito
Onde passo bem melhor que nos frios sob os soalhos.

Ouves tu os refrões dos domingos ressoando
E a esperança que chilreia em meu seio palpitante?
Cotovelos sobre a mesa e tuas mangas arregaçando,
Tu me glorificarás e estarás bem o bastante;

Eu acenderei os olhos de tua mulher aprazida;
A teu filho restituirei a sua força e suas cores
E serei para aquele fraco atleta da vida
O óleo que reforça os músculos dos lutadores.

Em ti cairei, vegetal ambrosia,
Grão precioso lançado pelo eterno Semeador,
Para que do nosso amor nasça a poesia
Que brotará rumo a Deus como uma rara flor!»

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Salmo

«1 Bendize, ó minha alma, ao Senhor (...)
13 Ele rega os montes desde as suas câmaras: a terra farta-se do fruto das suas obras.
14 Faz crescer a erva para os animais, e a verdura para o serviço do homem, para que tire da terra o alimento.
15 E o vinho que alegra o coração do homem e faz reluzir o seu rosto como azeite, e o pão que fortalece o seu coração.»

Salmos, 104