sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Os rapazes

Os rapazes

Encantei-me por esta fotografia. Descobrimo-la recentemente, vasculhando com a minha Avó as suas recordações.
Não sabemos de que grupo se trata, nem qual era a ocasião. Fosse qual fosse, tinha suficiente importância para se vestir casaco e tirar retrato. A brilhantina, suponho que era de uso quotidiano. Naquela época (finais de cinquenta, começos de sessenta), os rapazes, se algum tempo passavam ao espelho, não era a despentear-se.
Quanto se pode perceber, a esta mesa todos bebem vinho, mesmo os petizes. Há um rapazito de buço, meio escondido, que tem o copo vazio: ou foi o primeiro a emborcá-lo, ou, o que é mais certo, é o copinho-de-leite da ordem. Já o fedelho defronte tem um copo cheio, e tão danadinho estaria, que até saiu desfocado. A senhora risonha do fundo também não tem vinho; mas repare o leitor no brilho daquele rosto; no regalo daquela perna traçada.
(Antes de voltarmos aos rapazes, não lhe parece um tanto lúbrico aquele olhar fêmeo, por detrás do crianço de colarinhos? Não? É talvez da minha vista.)
Então, os rapazes: em ziguezague, depois do copinho-de-leite e o outro fedelho, temos um flagrante delitro de arregalar o olho; um rapazola todo contente; um sujeito que prefere não ver; outro prestes a decilitrar — ou a escavacar o fotógrafo; o seguinte, de que se vê somente a testa, talvez já comesse qualquer coisinha mais do que pão e azeitonas.
Quanto ao cavalheiro mais garboso de entre todos, chamava-se José Reinaldo Ferreira Inácio. Viveu entre 1932 e 2006. Foi meu Avô, e um bom rapaz.

1 comentário:

Serge disse...

Irmão,

Ganhei o dia. Muito obrigado.

Sérgio