quinta-feira, 18 de novembro de 2010

V. Q. P. R. D.

Os primeiros copos de vinho, bebi-os por volta dos 18 anos, numa tasca que ficava a dois passos da escola. Era o estabelecimento da severa D. Custódia, onde os estudantes, antes, depois ou em vez das aulas, regularmente jogavam matraquilhos e matavam a sede.
De entre esses fregueses, nós, que formávamos a equipa de voleibol da escola, éramos talvez os mais assíduos. No fim do treino físico, rumávamos à Custódia, para o treino de especialidade. Aliás, passado pouco tempo, «os treinos» designavam menos o tempo de correr ou de ensaiar jogadas do que o tempo de beber. «Ir aos treinos» significava ir beber copos à Custódia.
A verdade é que, se nos fizemos uma equipa aguerrida, unida, difícil de bater, o devemos ao vinho. O bebermos vinho já nos distinguia dos demais rapazes; bebê-lo juntos, numa congregação ritual, irmanáva-nos. E depois, o vinho, na sua bondade, conferia-nos força e emprestava-nos o seu melhor espírito. Nós jogávamos com a mesma galhardia com que esvaziávamos os jarros da velha Custódia.
Para além disso, éramos uns vaidosos. Nos torneios da escola, que ganhávamos impiedosamente, a nossa equipa dava pelo nome de «V. Q. P. R. D.». No início de cada jogo, como uma bruta invocação às musas, rugíamos o nosso grito de alento: — «TINTO!»

1 comentário:

Miguel Branco disse...

Já não se fazem Senhoras como a bondosa Custódia, que vendia álcool a menores (comecei a frequentar a "Custódia" aos 15...) mesmo ali ao lado da escola, indiscriminadamente e sem questionar a ascendente ebriedade dos clientes. À saudosa Custódia só faltava ter um pequeno bordel nas traseiras...
Perdão por divergir do tema principal, mas a nostalgia desse maravilhoso estabelecimento deu conta de mim.