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«Já as aplicações medicinais das bebidas alcoólicas são muito interessantes — o vinho era utilizado para cauterizações, limpeza de ferimentos e fricções, além de servir na preparação de poções à base de ervas. Para as crianças, uma dose diária de vinho preveniria que urinassem na cama.
O célebre médico João Curvo Semedo (1635-1719), em sua obra Observações médicas doutrinárias de cem casos gravíssimos (...), recomendava a quem quisesse abandonar o “vício da bebice” servir ao beberrão “vinho em que se afogavam duas enguias vivas” ou “vinho em que se misturou um pouco de esterco de homem”. E ainda “recolher o suor dos campanhões (testículos) de um cavalo quando estivesse suado” e servir ao bêbado, que poderia também escolher entre um copo de “vinho tinto em que se deitou uma fatia de pão que estivesse duas horas no sovaco de um agonizante” ou “o vinho que se deitou por meia hora dentro dos sapatos do mesmo bêbado, quando os descalçar, estando ainda quentes”.»
Sergio de Paula Santos, em Memórias de Adega e Cozinha (2007)