quarta-feira, 12 de março de 2014

Xaropes para totós

O leitor por acaso sabe em que endereço de correio electrónico atendem as Caves São João?


«Já as aplicações medicinais das bebidas alcoólicas são muito interessantes — o vinho era utilizado para cauterizações, limpeza de ferimentos e fricções, além de servir na preparação de poções à base de ervas. Para as crianças, uma dose diária de vinho preveniria que urinassem na cama.

O célebre médico João Curvo Semedo (1635-1719), em sua obra Observações médicas doutrinárias de cem casos gravíssimos (...), recomendava a quem quisesse abandonar o “vício da bebice” servir ao beberrão “vinho em que se afogavam duas enguias vivas” ou “vinho em que se misturou um pouco de esterco de homem”. E ainda “recolher o suor dos campanhões (testículos) de um cavalo quando estivesse suado” e servir ao bêbado, que poderia também escolher entre um copo de “vinho tinto em que se deitou uma fatia de pão que estivesse duas horas no sovaco de um agonizante” ou “o vinho que se deitou por meia hora dentro dos sapatos do mesmo bêbado, quando os descalçar, estando ainda quentes”.»

Sergio de Paula Santos, em Memórias de Adega e Cozinha (2007)

sexta-feira, 7 de março de 2014

Adeus, Maestro

Nico Nicolaiewsky, o Maestro Pletskaya do maravilhoso Tangos & Tragédias, um espectáculo que era uma festa de música e riso e que fez quase trinta anos de carreira, morreu há um mês. Soubémo-lo há dois dias. Nessa noite, sentámo-nos com duas Caipirinhas. Ouvimos somente o início do Epitáfio dos Titãs e brindámos à vida e a ele. Paz à sua alma.

Lê-se no Facebook uma historinha luminosa, onde ecoa a voz e a benignidade do Maestro Pletskaya. No final de mais uma representação de Tangos & Tragédias, uma senhora dirigiu-se a ele, ainda no figurino, e disse-lhe que já tinha visto o espectáculo oito vezes (a sortuda; eu só pude ver cinco). Ele, decerto arregalando um sorriso de todo o tamanho, respondeu no seu sotaque inventado da Sbørnia: «E AINDA NON INTENDEU?!»

quarta-feira, 5 de março de 2014

Fredy

Após a derrota com o Benfica, domingo passado (a 11.ª no campeonato; o 13.º jogo em branco), o treinador do Belenenses, Marco Paulo, afirmou que os seus jogadores tiveram «uma grande capacidade de luta e entrega contra, talvez, a melhor equipa do campeonato». O capitão, Fernando Ferreira, declarou: «Esta é uma resposta clara do plantel perante uma equipa muito forte.» O guarda-redes, Matt Jones, disse: «Ficámos tristes, mas a verdade é que este jogo não era do nosso campeonato.»

Faça-se um favor a estas alminhas e piche-se em todas as paredes das áreas reservadas do Estádio do Restelo o axioma de Wittgenstein: «Os limites da minha linguagem são os limites do meu mundo.» Se se achar melhor, substitua-se mundo por futebol. «Os limites da minha linguagem são os limites do meu futebol.» Enquanto persistam no discurso, na postura e na prática dos medíocres, não deixarão de ser medíocres.

Fredy — um rapaz de 24 anos que há 13 representa o Belenenses e que fala em alegria como uma forma de jogar futebol — salvou-nos a face. Expulso no domingo com dois cartões amarelos numa questão de segundos, por protestar com o árbitro (cujo trabalhinho o mister Jesus achou muita bom), retractou-se deste modo: «Perdi a cabeça. Meti-me a jeito. Foi uma criancice da minha parte. (...) O primeiro amarelo foi justo, mas o segundo já não. Apenas disse ao árbitro que ele estava a desrespeitar o clube. E, sejamos francos, foi isso que ele fez.»

Não é a primeira vez que Fredy dá aos seus companheiros um exemplo de galhardia, de honradez e de respeito pela camisola que veste. Depois da primeira mão das meias-finais da última Taça de Portugal, que o Belenenses disputou com o Vitória de Guimarães, ele, sorrindo que nem Matateu, prestou o seguinte esclarecimento: «Esta equipa nunca desiste, acredita sempre. Perdemos por 2-0, temos de ir lá ganhar por 3-0.»

Ergo o meu copo a este espírito: cá vai à saúde, ao êxito e à alegria do Fredy! — um grande jogador do Belenenses.