quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Quinta do Boição Arinto Reserva Bruto 2008


Enovalor. DOC Bucelas. João Vicêncio (enol.) (?). 12,5% vol. 5,90 € (Caves Velhas).

Aquele típico aroma de manteiga azeda (o melhor que há), mas em pétillant, em piquant, com mousse e beaucoup d'esprit. A pequena euforia — sobria ebrietas — que oferece uma garrafa de bom espumante... Não saberia distinguir este dos champanhes franceses. — É claro que saberia: os franceses, coitados dos pobrezinhos, não têm Arinto nem Bucelas.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Terra Franca Garrafeira 1987


Sogrape. DOC Bairrada. 12% vol. 8 € (Adega do Albertino, Imaginário, Caldas da Rainha).

Vinte e seis anos aquela garrafa esperou até que a mandámos abrir no início de uma tarde mansa de férias, numa terra curiosamente chamada Imaginário. O conteúdo, um veludo com aromas delicados, lembrando mel e chocolate. Tão bom e convivial que gostou de tudo: um queijinho de meia cura, óptimos pães de trigo e de milho, a azeitona bem temperada e um soberbo prato de polvo, ambos guarnecidos com alhinho, com que o vinho pacientíssimo também se entendeu. Oito euros... Só no Imaginário.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Reguengos Garrafeira dos Sócios 2003


Coop. Agr. de Reguengos de Monsaraz. DOC Alentejo. Aragonez, Trincadeira, Castelão. 14% vol. Cerca de 16,50 € (Intermarché).

Deixámos que acumulasse fantasmas até um domingo de neblina, apropriado e frio, em pleno Agosto. A garrafa esvaziada conserva essas marcas no peito e, no fundo, o último ai de um bouquet maduro e licoroso. Enquanto bebíamos, mulher amada, pensei em Rilke: dez anos não são nada.

sábado, 10 de agosto de 2013

Ter princípios

«Penso que um homem se deveria embriagar pelo menos duas vezes por ano só por princípio, para não se deixar tornar arrogante acerca disso.»

Atribuído a Raymond Chandler.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Morgado de Bucelas 2012


Soc. Agr. Boas Quintas. DOC Bucelas. Arinto. Nuno Cancela de Abreu (enol.). 12,5% vol. 6 € (Restaurante Barrete Saloio, Bucelas).

Que alegria! Um Bucelas que desconhecia, logo inteiramente novo! E da lavra de Cancela de Abreu, esse santo que nos devolveu o Arinto! Viva Cancela de Abreu! Viva a acidez máscula dos melhores Bucelas! Abaixo os brancos redondos e mariconços! Viva o Barrete Saloio, que vende este vinho a seis euros! Viva quem pagou o almoço! Viva!


Descobre-se na Internet que esta não é a primeira colheita do Morgado de Bucelas. A ficha técnica da anterior refere aromas de lima e maçã verde e caracteriza a prova como essencialmente fresca e mineral, o que é apenas acertado. Ao invés, o contra-rótulo deste 2012 anuncia um «vinho muito frutado» (no inglês, horror dos horrores, até o apodam de «exuberante»), com um sabor citrino e de frutos tropicais. Ora, senhores: o seu vinho tem atributos especiais, naturais, nobres e tradicionais; por que diabo o querem fazer passar por um branco chato, igual a qualquer outro?


Sim, ele será excelente como aperitivo e com mariscos, peixes e «pratos ligeiramente picantes». Mas, para que conste, eu bebi-o com um naco de novilho à hortelão, a melhor apologia da osmazoma — e, ao mesmo tempo, da cenoura e dos brócolos — que conheço. E sabe o que lhe digo, amigo leitor? Viva o Bucelas com carne!

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Casal da Azenha Reserva Velho 1990


António Bernardino Paulo da Silva (Azenhas do Mar). 12,5% vol. Sem mais indicações. 3 € (produtor).

Um Casal da Azenha como novo, salvo seja, mas muitíssimo melhor (e pelo inacreditável preço de três euros): os vários aromas, mais finos, mais perfeitos, estão graciosamente entrelaçados.

É por afinidade que se harmoniza com um feijão verde à mediterrânea, derivação cá de casa do esparguete à bolonhesa, com um molho de tomate verdadeiro, azeite dos Avós e orégãos colhidos pela Tia Maria. Imagine-se. Depois, com o Sol mais baixo no céu, vá-se até à beira-mar e confira-se que são pilritos-das-praias as simpáticas avezinhas que andam debicando pelas pocinhas nas rochas, fugindo a correr do alcance do mar.